CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trilhar os prazerosos caminhos da pesquisa, às vezes torna-se doloroso. Porém, é muito significante e fundamental, para aqueles desejosos de estar sempre fazendo novas descobertas. E para os iniciantes uma das maiores de suas descobertas é a de que, ao invés do pesquisador direcionar a pesquisa ocorre o contrário. A pesquisa leva o investigador a lugares remotos. Leva-o a lugares onde o mesmo talvez nunca tivesse imaginado que por lá teria que passar.
A pesquisa desperta emoções fazendo com que às vezes, o próprio investigador venha a se comover no momento em que se depara com o antes desconhecido. Pode fazer com que esse mesmo pesquisador sinta rolar lágrimas em seu rosto, fruto da emoção sentida diante da alegria do término de seu trabalho e da sensação de dever cumprido depois de vencer tantas obstáculos.
Esta pesquisa deu a oportunidade de testemunhas voltarem no tempo deixando transparecer que, o momento em que estavam ali sendo entrevistados era como se fosse o momento do passado que estavam relatando. E isso faz parte da “magia” da pesquisa. É como se fosse uma “máquina do tempo”.
Entrar no magistério, é aceitar ser um eterno pesquisador. E se assim não for, mais tarde aquele que não firmou tal compromisso tornar-se-á um acomodado reprodutor do conhecimento ao invés de produzi-lo.
Esta produção científica é fruto de pesquisas realizadas pelo autor com o intuito de revisitar o cotidiano político da Joaquim Pires na década de 60 e 70, baseado na história dos chefes políticos da época. Buscamos os fatos através do uso da oralidade, entrevistando àqueles atores que fizeram parte do cenário político da época.
O fato de chegarmos à reta final não significa dizer que as fontes foram esgotadas e que o que tinha para ser dito já foi dito. Há muito ainda para se investigar, descobrir, questionar, analisar, rever, rescrever. Enfim, o que veremos nesta parte do trabalho, são observações do ponto de vista de um historiador que em sua simplicidade não tenta estabelecer ou impor uma verdade como algo que não possa ser alterado, modificado.
O conhecimento aqui desenvolvido vem a abrir campo para discussões e aprofundamentos, pois, a história está sempre em construção, e o conhecimento produzido por ela não é perfeito ou acabado.
Gostaríamos de esclarecer que nossa intenção não foi de forma alguma expressar críticas destrutivas a nenhuma das pessoas ou grupos partidários aqui mencionados, e sim estudar e analisar o que realmente aconteceu durante a formação política na cidade de Joaquim Pires, e pra isso seria quase impossível deixar de mencionar nomes ou grupos.
Enfatizamos que é de suma importância o respeito que esses “coronéis” joaquimpirenses merecem da população de sua terra. Eles são um referencial no tempo histórico da cidade, que deve permanecer vivo na memória da política municipal (e por que não na memória da política estadual?). Foram eles os percursores da política de Joaquim Pires que, embora caminhando em passos lentos, vive a cada dia sofrendo transformações, movidas pelo contexto histórico do nosso Estado e País. Se eles deixaram para a cidade um legado bom ou ruim, cada um tire suas conclusões, mas sem esquecer que o homem é movido pelas circunstâncias do seu tempo e, o seu discurso ou sistema de propostas necessariamente terá de ser interpretado de acordo com suas próprias circunstâncias, ponto de vista e experiências. Não podemos deixar de lembra também que o homem age sempre em relação aos outros homens e, isso faz parte de seu caráter histórico.
Levamos em consideração a possibilidade de que, assim como os nomes desses chefes políticos vêm a significar um referencial histórico para a cultura política da cidade, leitores possam interpretar que possam vir a significar descaso com a população e as coisas públicas. O que para alguns algo possa significar progresso, para outros signifique desemprego, fome, humilhação e opressão. Assim como para alguns seja liberdade, para outros seja prisão...perseguição.
A classe média joaquimpirense desempenhou no cenário da formação política da cidade, o papel de impulsionar nomes, transformar cidadãos comuns em heróis, endeusar quem não é Deus, fazer uma propaganda de um determinado indivíduo por puro interesse próprio em troca de favores dentro do grupo em que age. E isso é uma permanência histórica em Joaquim Pires.
Não podemos generalizar essa afirmação, porém, se trata da maioria, visto que essa maioria depende diretamente ou indiretamente do poder público municipal, caracterizando-se como sanguessugas da máquina pública, observando-se uma mobilidade da classe baixa para a classe média por esses meios. E é essa classe média local que tem sido um dos pilares para que essa situação de atraso tenha continuidade no decorrer dos anos.
O poder de influência que a classe média joaquimpirenses possui, é grande ao ponto de fazer com que grande parte da população da cidade demonstre omissão diante da pobreza e dependência que tem sido características da situação econômica e social do município. Essa situação torna-se mais preocupante quando se considera que ela se agrava pela situação de crise. Discussões a nível local devem ser feitas no sentido de superar esses impasses que mantêm o atraso e a dependência.
Partindo da classe média da cidade, tem sido propagada em Joaquim Pires a falsa idéia de que a emancipação política do município foi realizada por causa de um movimento popular liderada por homens do povo que muito se preocupavam com o desenvolvimento da cidade. Na realidade a emancipação política de Joaquim Pires ocorreu movida a interesses pessoais, arquitetada pelas oligarquias a nível estadual e municipal.
Se analisarmos os fatos veremos que Joaquim Pires fazia parte de uma política de emancipação que estava acontecendo no estado do Piauí da época, onde não apenas ela foi emancipada. O que se tenta mostrar com tais propagandas é que a emancipação de Joaquim Pires foi um caso particular, um caso especial naquela época, enaltecendo a figura de políticos que estavam à frente de seus liderados, transformando-os em heróis. Este tipo de pensamento esconde atrás das cortinas os acordos, as artimanhas usadas por estes homens para que Joaquim Pires viesse a ser emancipado.
Manter ou alcançar o status era uma das razões que motivava atores do cenário político joaquimpirense a adquirir o poder e para isso não mediam esforços. Manter-se no poder era necessário e fundamental para o auto-sustento, para o sustento de parentes e da clientela, como também era fundamental para adquirir destaque perante figuras que faziam parte do cenário político estadual.
Nas primeiras décadas de emancipação política, os políticos joaquimpirense sempre procuravam deixar transparecer a imagem de um homem bom que está ao lado do povo nos momentos mais difíceis, muitas vezes aproveitando-se da ignorância daquele que não possui nenhum tipo de instrução, ou que por motivos de extrema necessidade se deixa entregar às garras do clientelismo. Devido ao estado de miséria em que se encontrava parte da população do município, essa parcela do povo comportava-se como quem estivesse morrendo afogado precisando de socorro, e aí chega o momento de o político agir como aquela serpente que espera o momento certo para dar o bote. Assim é que se deu origem o clientelismo na cidade de Joaquim  Pires.
A política do município sempre esteve cheia de homens que se relacionam com o povo de forma interesseira, por que a política de Joaquim Pires sempre foi um jogo de interesses e isso é mais uma das permanências que existe no cenário político da cidade.
A política de Joaquim Pires foi alicerçada nas práticas coronelísticas de seus precursores e a década de 60 e 70 foi um retrato disso. O destino do povo foi sempre decidido pelo poder que os coronéis tinham em suas mãos. Esses chefes políticos roubavam do povo o direito de liberdade e igualdade, perseguindo seus adversários e encabrestando os seus aliados. Tais costumes foram passando de geração em geração e isso também é uma permanência.
Em alguns momentos dessa pesquisa nos deparamos com cidadãos ou cidadãs que testemunharam fatos importantes da política local e que se negaram a compartilhar o que sabem cometendo o pecado de contribuir para a amnésia coletiva da população da cidade, nos fazendo refletir a cerca dos motivos que as levariam a esse tipo de omissão. Através da interligação entre os fatos observados nesta monografia entendemos o por que da omissão de tais pessoas. 
Análises delicadas farão com que encontremos as razões que estão dentro do campo político e pessoal. Político, quando tentam proteger alguém ou não se comprometer prestando certos tipos de informações; Pessoal, quando tentam proteger familiares, escondendo quem sabe, alguns dos fatos vergonhosos dos quais fizeram parte em seu passado político. O medo de ser punido, de se expor ou ser mal-interpretados faz com que os mesmos façam uso da arma do silêncio. Porém, temos que respeitar àqueles que permanecem em seu direito de calar-se.
Por outro lado encontramos àqueles que gostam de falar o que viveram, o que viram, o que fizeram parte. Gostam de falar sobre si, sobre os outros, sobre as coisas. Foi através deles que esta monografia foi construída. A partir deles notamos no cenário joaquimpirense dos anos 60 e 70 uma tímida população isolada do restante do mundo e muito limitada ao seu espaço geográfico. Era como se o mundo fosse apenas o município de Joaquim Pires. Sem estradas, sem meios de comunicação, sem meios de transportes, esse povo vivia a mercê da vontade de seus líderes políticos.
As décadas de 60 e 70 marcaram época no cotidiano político da cidade de Joaquim Pires. Marcaram época por que são nestas décadas que estão as raízes do modo de se fazer política na cidade, esta cidade que deste sua emancipação política tem sido governada por gestores públicos que chegaram ao poder via oligarquia.
E assim vemos que o cotidiano político da cidade está cheio de permanências e rupturas norteadas por diversos fatores que interagem com a política. Os resultados de pesquisas realizadas para a produção deste trabalho aqui estão registradas, e os mesmos têm como função principal armazenar as informações que através do tempo e do espaço permitirão comunicar e fornecer aos joaquimpirenses ou quaisquer interessados um processo de marcação e memorização, deixando para os mais capacitados reordenar, retificar e acrescentar fatos que passaram despercebidos ou não chegaram ao nosso conhecimento. De certa forma, esperamos nos ter aproximado das fronteiras onde a memória se torna história.