APRESENTAÇÃO

A MEMÓRIA POLÍTICA DA CIDADE DE JOAQUIM PIRES-PI

O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir.

O livro Revisitando o Cotidiano da Cidade de Joaquim Pires-PI (décadas de 60 e 70) apresenta ao mundo as possibilidades sugeridas pela memória política. Na obra, o professor de História das Chagas Ramos, rememora as contradições de sua terra natal. Sua pesquisa em história esforça-se para sintetizar a memória política de uma cidade, de um povo, de um tempo. Sua metodologia tem como fonte histórica a vida de chefes políticos da época.
O interesse especial pela fonte oral se justifica na medida em que as entrevistas permitem obter e desenvolver conhecimentos novos e fundamentar análises com base no trabalho de criação de fontes inéditas sobre um determinado tema. O intuito do autor, portanto, por intermédio dessas lembranças políticas é testemunhar a ideologia dos grupos que têm ao longo dos tempos, governado a cidade de Joaquim Pires.
Inspirado pelas possibilidades e não pelos determinismos do fazer historiográfico, o autor deseja com o aprendizado histórico do livro, conscientizar, politizar crítica e reflexivamente uma quantidade sem fim de joaquimpirenses, especialmente aqueles mais excluídos pela lógica da política capitalista.
Historicamente, as dimensões sociais do coronelismo, do clientelismo e do paternalismo na região Nordeste têm relação direta com a lógica desigual e combinada de alienação da maioria da população. Isto porque, o mandonismo de uma “elite” política corrupta, vem tornando ainda mais miseráveis as condições materiais de existência do povo nordestino, entre eles, os de Joaquim Pires.
É importante destacar ainda, o entendimento de que todo esse processo histórico é característico de uma estrutura social fundamentada na desigualdade social, camuflada por uma sociedade pseudodemocrática, que ilusoriamente mascara e oprime a maioria da população nordestina na masmorra da miséria do Estado Capitalista e que, a conta-gotas, permite alguma melhoria ou ascensão social. Os esquemas de compra de votos, fraudes eleitorais, perseguição aos adversários políticos, denunciados pelo autor em Joaquim Pires atestam isso.
Toda esta análise sobre a memória política de Joaquim Pires é relevante, por ser fruto de uma historiografia regional que tem a capacidade de apresentar a dialeticidade, ou seja, as contradições de seres humanos historicamente determinados, de fazer a ponte entre o individual e o social, das partes com o todo.
Esteado nessas reflexões, as experiências dos políticos locais são enfocadas regionalmente como um campo de conflitos e tensões culturais, entendendo que a cultura se faz no modo de organização corporal de sujeitos historicamente situados e socioeconomicamente estruturados.
As trajetórias políticas dos “coronéis", investigadas pelo autor por meio das entrevistas, bem retratam isso e, ainda, levam-nos a considerar que ela está incluída na história política do tempo presente. A análise do livro permite destacar a necessidade constante de uma profunda reflexão, uma vez que tem sido exatamente esta estrutura de poder político que ao mercantilizar a vida, tem de forma cada vez mais voraz, se alimentado da exploração do homem pelo homem.
Nestes termos, o Livro Revisitando o cotidiano da cidade de Joaquim Pires-PI (décadas de 60 e 70), do professor de História das Chagas Ramos pedagogicamente exercita a memória-política como se fosse igual à Liberdade.

Desejamos a todos um bom aprendizado com a leitura...

Roberto Kennedy Gomes Franco
Professor Doutor do Curso de História da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
 

 

NOTA DO AUTOR

As peripécias da vida vêm de um dinamismo sem tamanho. Uma hora estamos aqui, outrora estamos acolá, e por muitas vezes simplesmente não entendemos as razões dos acontecimentos de nossas vidas. Saí da cidade de Joaquim Pires aos 10 anos de idade em 1986, rumo à capital piauiense Teresina, objetivando a qualificação secular. Retornei em 2003, onde permaneci até meados de 2005, tendo que sair da cidade meio que desolado diante de uma derrota política, depois de uma campanha para prefeito. Apesar de viver a maior parte da minha vivência longe da minha cidade natal, pude viver a política de perto, mesmo dentro de minha casa. Desde criança pude ver, ouvir, presenciar fatos muito íntimos da politicagem da cidade de Joaquim Pires, e minha candidatura a prefeito em 2004 foi um “laboratório”, onde pude estudar com um olhar mais aguçado o comportamento dos que fazem parte do processo político, desde o “chefe” até àquele eleitor lá do interior do mato. Com certeza toda a experiência adquirida neste período muito contribuiu para a realização desta pesquisa. Mas, que ajuda essa experiência de 2004 me deu, visto que esta pesquisa discorre sobre a década de 60 e 70? Eu justificaria explicando sobre as permanências que perseguem o processo eleitoral na cidade. Apesar de algumas mudanças particulares ocorridas em meio a esse processo, através de um ponto de vista crítico pude me sentir envolvido num processo eleitoral de 40 anos atrás, em pleno ano de 2004. Pude ver o quanto se precisa evoluir. Diante da minha derrota, não havia mais o que fazer em Joaquim Pires naquele momento. Voltei para Teresina em busca de novas conquistas, com um sentimento de uma pessoa que foi exilada. Sim, ainda me sinto um exilado, assim como aqueles que foram expurgados da cidade em decorrência da política ali empregada. Negar a existência desse exílio é hipocrisia. Quem sabe um dia eu volte, pois, a vida é cheia de peripécias que vem de um dinamismo sem tamanho.

Francisco das Chagas Ramos da Cunha