ARTIGOS CIENTÍFICOS


CORONELISMO: UMA PERMANÊNCIA HISTÓRICA NA CIDADE DE JOAQUIM PIRES - PI

Francisco das Chagas Ramos da Cunha
Especialista em Docência no Ensino Superior – Faculdade Santo Agostinho
Graduado em História – UESPI
chagasramos@live.com


Este trabalho é fruto de uma pesquisa que trás o seguinte questionamento: A política coronelística realmente se extinguiu com ascensão de Vargas ao poder? Nosso trabalho de investigação se desenvolve na cidade de Joaquim Pires – PI, e nossa intensão é mostrar que em 1960 o mandonismo local, o voto de cabresto e as fraudes eleitorais eram práticas corriqueiras na cidade objeto de estudo. A história do Brasil afirma que com a Revolução de 1930, as práticas coronelísticas foram abolidas e, isso nos levou a desenvolver tal pesquisa. O que nos levou a estudar a década de 1960 foram as circunstâncias da emancipação política daquela cidade. Na época, lutavam pelo poder do município dois latifundiários: “coronel” Agripino e “coronel” Leôncio. Procurando saber como esses homens chegaram a ser “coronéis”, como era o relacionamento deles com o povo e que tipo de homens eram eles, fomos ao encontro de atores que fizeram parte desse cenário político, portanto, a metodologia adequada é a história oral.
A metodologia da oralidade é referendadas por autores como Paul Thompson (1998), Ecléa Bosi (1994), Antônio Torres Montenegro (1992), que fazem da técnica oral um recurso essencial no desenvolvimento da narrativa dos fatos.
Segundo Bosi (1995, p.88,89,90):

A narração é uma forma artesanal de comunicação [...] O passado revela desse modo não é o antecedente do presente, é sua fonte [...] A história deve reproduzir-se de geração em geração.

O historiador grego Heródoto (Séc. V a.C.) já dizia: "Desejoso de saber, interrogo". Dessa forma nota-se que não é de agora que as fontes orais são utilizadas para o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa, como metodologia para se escrever História.
Para THOMPSON (1998, P.25):

A fronteira do mundo acadêmico já não são mais os volumes tão manuseados do velho catálogo bibliográfico. Os historiadores orais podem pensar agora como se eles próprios fosse editores: imaginar qual a evidência de que precisam, ir procurá-la e obtê-la.

A oralidade pode alterar tanto o conteúdo quanto a finalidade da história, além de poder mostrar ao historiador novos campos de investigação. As testemunhas das “classes dos derrotados” agora podem fazer parte da história. A metodologia da oralidade, nos pode dar uma oportunidade de construir as fontes.
Paul Thompson (p.44), ainda comenta que:

Ela lança a vida para dentro da própria história, e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo (...) Em suma, contribui para formar seres mais completos (...) e oferece os meios para uma transformação radical do sentido social da história.

Procuraremos embutir esses conceitos no desenvolvimento de tal pesquisa, que também se fundamentará em fontes teóricas tendo como referencial o que já foi escrito por LEAL (1997), BOMFIM (2003), MEDEIROS (1996) e escritos particulares que permanecem guardados em arquivos familiares.
Joaquim Pires está localizado a 229 quilômetros da capital Teresina e a 110 quilômetros do litoral piauiense, possui uma superfície de 740 Km2 (site IBGE, 2011). A zona eleitoral a qual faz parte é a 85ª zona, e possui aproximadamente 10.454 eleitores (site TSE, 2011), numa população de cerca de 13.822 habitantes, onde praticamente 70% dessa população reside na zona rural e predomina o sexo masculino.
A cidade de Joaquim Pires se originou a partir da povoação de pessoas vindas do Ceará, Maranhão e de outras localidades do Piauí. Por causa de sua localização geográfica, essas terras funcionavam como um corredor de acesso aos dois Estados acima citados. Os fatores naturais da região foram de fundamental importância para o seu povoamento, principalmente a existência da lagoa do cajueiro que teve grande influência para a fixação de quem passava pela região. Um dos primeiros moradores foi José Pereira de Souza, que construiu sua casa nas proximidades da lagoa.
Segundo Araújo Costa (arquivo particular da família Costa), por volta de 1880 chegou à Fazenda Cajueiro o Coronel Cândido Rodrigues de Carvalho que posteriormente adquiriu outra fazenda conhecida por Casa Velha, propriedade dos herdeiros do Coronel Simplício Dias da Silva.
Na realidade antes mesmo da chegada de Rodrigues de Carvalho na localidade, a Fazenda Cajueiro já existia e estava dentro dos limites de Parnaíba, Freguesia que segundo o senso provincial de 1831, possuía três distritos: Buriti dos Lopes com 3.154 pessoas, Freicheiras com 1.986 pessoas e Distrito da Vila com 4.324 pessoas (ALENCASTRE, 1981, p.3).
A fazenda cajueiro provavelmente seria um dos 477 fogos¹ que pertenciam ao distrito de Buriti dos Lopes, onde a soma de todos esses fogos contavam com 2.894 pessoas livres, sem a existência de escravos.
Com a chegada de algumas famílias que foram se domiciliando nas proximidades da Fazenda Cajueiro, a comunidade foi se desenvolvendo e passou a ficar conhecida como povoado Porteirinha. Tal denominação foi por causa de um cercado que caindo, ficou de pé somente a porteira. Esse cercado foi construído a mando de Rodrigues de Carvalho para servir de local para amansar gado, onde hoje está erguida a capela de Santa Dorotéia, a padroeira da cidade, às margens da Lagoa do Cajueiro.
Agripino da Silva Costa – que mais tarde viria a tornar-se um dos coronéis do povoado, chegou a Porteirinha no ano de 1927, vindo de Magalhães de Almeida – MA. Desempenhava suas  atividades  profissionais  na  área  do comércio, vindo instalar uma  filial de “Romão e Cia.”, que funcionou até 1929. Em pouco tempo conseguiu predomínio econômico, social e político no povoado. Era ligado politicamente ao Coronel Tomás Romão de Sousa, de Buriti dos Lopes. Ocupou por duas vezes o cargo de vereador naquele município, como representante de Porteirinha.
Francisco Leôncio chegou no município nos primeiros anos da década de 1930, vindo do Estado do Ceará. Comprou a fazenda da Mimosa, onde começou a progredir economicamente através extração e comercialização da cera da carnaúba. Com o passar dos dias passou a plantar cana-de-açúcar fabricando rapadura e cachaça. Devido à necessidade de mão-de-obra em suas atividades profissionais trazia famílias cearenses para morar em suas terras, o que fazia com que aumentasse cada vez mais o número de moradores na região.
A cidade de Joaquim Pires sempre foi um município que sofreu fortes influências de grupos oligárquicos regionais e, no cenário político da cidade as oligarquias joaquimpirenses sempre lutaram para que a figura do “chefe político” local sempre se mantivesse viva. Na década de 1960, dois nomes se destacaram como “chefes político”, sendo eles: Agripino Costa e Francisco Leôncio. Lemos em LEAL (1997, P.76) que:

O agrupamento dos fazendeiros (...) em torno de um deles (...) explicam-se por diversas razões: por motivo de ordem pessoal (maior vocação, capacidade ou habilidade); pela tradição (permanência da
chefia na mesma família); pela situação econômica (propriedades mais ricas, com maior número de eleitores, ou maiores disponibilidades para gastos eleitorais) etc.

Das razões acima citadas, somente a “tradição” não estava ainda presente pelo fato de esses homens serem os precursores das oligarquias na cidade de Joaquim Pires. As atividades profissionais exercidas por esses “chefes políticos” foi o que mais veio a contribuir para que os mesmos conseguissem a liderança desses grupos oligárquicos. Com as mudanças ocorridas na economia piauiense da época (como aumento no preço de determinados produtos), esses proprietários de terras que eram fazendeiros, passaram também a comerciantes bem sucedidos e, foi em decorrência do sucesso nas negociações comerciais que conseguiram destaque na sociedade a ponto de adentrar nas veredas da política buscando defender nela os seus interesses interpretados como interesse público.
Não podemos deixar de lembrar que no Piauí, a economia foi quem norteou a formação histórico-social, e que foi na pecuária que o Estado veio a se destacar vivendo a “civilização do couro” entre o século XVII e XIX. Foi nesse cenário regional, isolados das autoridades da época, que surgiu a figura do fazendeiro como chefe autoritário, que nada mais era do que o “coronel”. Eis as raízes do mandonismo local, que como diz Antônio José Medeiros (p.21, 1996) “funde e confunde dominação social e poder político”. Observamos a partir de então o surgimento de características secundárias do coronelismo, sendo elas o filhotismo, o falseamento do voto, como também a desorganização do serviço público local, dentre outros. Segundo LEAL (p.40): “o coronelismo é uma forma de incursão do poder privado no domínio público”.
A figura do “coronel” não possuía nenhuma ligação em relação a carreira militar. Essa era uma patente adquirida pelo poder aquisitivo dos grandes fazendeiros ou latifundiários.
Pedro Leôncio (2006), explicando de que forma seu pai se tornou um coronel, explica que:
 Quem deu a mão para o papai abaixo de Deus foi o Almirante Gervásio. O Almirante comprou as terras e o papai pagou em pó e em cera.  Depois o papai foi para o Ceará e trouxe  uns homens pra tirar o carnaubal e aí a coisa melhorou. Depois o papai falou novamente com o Almirante Gervásio pedindo um dinheiro para comprar 200 gados, bode, ovelha... aí o Almirante disse assim: “Leôncio, tu tá enriquecendo. Daqui a pouco tu tá meu patrão”. Aí o papai falou: “Não Almirante, é que quero que você me ajude porque eu tenho vontade de comprar essa outra propriedade que já vem com gado, tem ovelha, tem tudo”. Aí o Almirante deu a ordem para o Rolando Jacó de Parnaíba, para o Rolando fornecer o dinheiro. Aí o papai pagou com cera. Ele trouxe mais homens do Ceará, aí todos nós fomos trabalhar. Nesse tempo o preço da cera subiu... foi lá pra cima, e aí o papai pagou logo o dinheiro. Isso tudo foi mais ou menos de 30 a 36 por que em 40 o papai já estava folgadão. Já chamavam ele de Coronel. Ele resolveu ir para o Baixão...chamavam o Baixão de Mitamba. Lá Nesse tempo tinha uns sítios do finado Luís Carvalho. Tinha um engenho de pau, tinha tudo, aí o papai queria levantar. Era perto. O papai mudou-se pra lá. Lá começou a trabalhar e melhorou mais ainda de condição. Nesse tempo ele fez um empréstimo com o Presidente da República Getúlio Vargas para poder fazer um açude. Nessa época o papai já era um homem “apulumado”, já tinha o nome de coronel, já tinha muito gado... muito boi. O próprio povo daqui o chamavam de coronel, como também os de fora. Os coronéis não tinham era curso e nem diploma, mas davam a patente pra eles.
 A partir do momento em que passamos a estudar o coronelismo, passamos a observar que cada “coronel” tem seu grupo onde sempre vivem em disputa com grupos de outros coronéis. Dificilmente haverão dois ou mais “chefes” políticos na mesma facção política, a não ser nas eventuais coligações. Os motivos das disputas são a ganância pelo poder, gerado na maioria das vezes pela natureza instável do “status” desses “coronéis”, gerando consequentemente competições e conflitos.
Para a sociologia, a diferença entre competição e conflito, está no fato de que a primeira é um processo inconsciente, enquanto que a segunda é consciente. Simplificando melhor essa diferença, basta dizer que quando a competição é consciente, ela deixa de ser competição e passa a ser conflito. (PIERSON, p.220, 1981)
Para Donald Pierson (1981):

A qualidade principal do conflito é a luta pelo “status”, isto é, a luta por uma posição no grupo, por parte do indivíduo, ou numa série de grupos, por parte do grupo, por uma posição que corresponda à concepção que o indivíduo ou grupo tem do seu próprio papel.

Antes da emancipação da cidade, atuava somente um grupo político na cidade. Tal grupo era liderado por Agripino Costa, que já ocupava o cargo de vereador em Buriti dos Lopes. Com a emancipação política de Joaquim Pires, originou-se mais um grupo: o grupo liderado por Francisco Leôncio de Sales. Incentivado por alguns amigos e principalmente pelo Deputado Estadual Wenceslau Sampaio de Buriti dos Lopes, Francisco Leôncio decidiu entrar na política, disputando as eleições de 1962 contra Agripino Costa.
Esse processo de competição e conflito entre grupos, sempre almejava a ocupação de cargos públicos como o de Prefeito, Vice-Prefeito, Vereador, além de secretarias e outros cargos de confiança. Com a emancipação do município a função de “Cacique” na política ainda continuava a cargo de Agripino Costa, o qual era visto como um “imbatível” líder político da cidade.
Embora esses homens não fossem ricos, eram visto como pessoas de boa condição econômica. Vale observar que a propriedade de terra configura-se como grande fonte de poder e riqueza, sendo a fonte maior da formação oligárquica.
Victor Nunes Leal (1997, p43), explica que:

Como costumam “passar bem de boca” – bebendo leite e comendo ovos, galinha, carne de porco e sobremesa – e têm na sede da fazenda um conforto primário, mas inacessível ao trabalhador do eito, o roceiro vê sempre no “coronel” um homem rico, ainda que não seja; rico, em comparação com sua pobreza sem remédio.

A partir da formação desses grupos políticos locais compostos por essas famílias foi que, sempre recebendo o apoio dos governantes a nível estadual buscavam o direito de exercerem o poder local. Para isso, pactos eram firmados no intuito de garantir o exercício do poder pelas oligarquias e assim, num encadeamento autoritário, as decisões deveriam ser acatadas em todos os níveis para que as reivindicações fossem atendidas.
Aos trabalhadores rurais, que residiam dentro das fazendas cabia aceitar o "voto de cabresto" elegendo os candidatos apoiados pelo patrão. Para fiscalizar se o eleitor realmente tinha votado em seus candidatos, o “chefe político” designava pessoas para investigar, e através da cumplicidade com presidentes de seção a comprovação era feita. Era de costume esses presidentes fazer alguma marca que identificasse a cédula do eleitor do qual se duvidava para que na hora da apuração fosse descoberto se ele realmente havia votado nos candidatos do “chefe político”.
O voto fazia com que o eleitor demonstrasse sua lealdade ao patrão e a desobediência podia resultar em punições. Portanto, os trabalhadores rurais (os mais fracos deste “esquema” na política), nunca podiam expor o seu real pensamento político.
Em entrevista a Francisco Pereira da Silva, mais conhecido por Chico Calú, neto de um dos primeiros habitantes de Porteirinha (o Sr. José Pereira de Sousa), constatamos que antes mesmo da emancipação da cidade de Joaquim Pires, o eleitor era submetido à vontade do Coronel Agripino (não havia outro chefe político na região, pois, o Coronel Leôncio somente veio a se tornar um “chefe político” após a emancipação). Chico Calú (2006) conta que:

Todo mundo era submisso ao Coronel Agripino, logo porque na época aqui era só ele. Era por causa dessa submissão que a maioria dos habitantes de Porteirinha votavam onde ele mandava. Naquela época ele “num” tinha nem esses bom tratamento, o povo tinha essa obrigação. Ele dizia assim: fulano de tal é o candidato, “vamo” votar nele, pronto. Era aquilo, né.


Victor Nunes Leal (1997, p.44), explicando a existência do voto de cabresto, diz que:

Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais, nem revistas, nas quais se limita a ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em casos esporádicos, tem o patrão na conta de benfeitor. E é dele, na verdade, que recebe os únicos favores que sua obscura existência conhece.

Pedro Leôncio (2006), filho do coronel Francisco Leôncio, faz um relato mais completo de como funcionava a relação eleitor- coronel e vice-versa:

O papai era bom demais para os eleitores. Ele servia muito as pessoas. As pessoas iam procurar ele por uma necessidade e ele estava pronto pra atender, como por exemplo, a pessoas chegava lá querendo proteção e diziam: “Coronel Leôncio eu matei fulano de tal...” ou “Eu quero que você mande deixar minha mulher... eu quero isso... eu preciso daquilo...” (...) Naquele tempo já existia a compra de voto, mas o papai quando era vivo não dava dinheiro para os moradores dele não. Ele dava o que eles precisassem. Quando chegavam lá por casa o papai dizia: “Fulano, tu vai me dar um voto, o que tu precisar me diz”. Aí a pessoa ia e falava. Mas, chegar e dizer: “aqui fulano, dez cruzeiro... dez “miréis” pra tu votar em mim”, não tinha isso não. Eles votavam em quem o papai dizia, por que a luz que iluminava o andor era ele papai. Toda necessidade de polícia, de política, de perseguição, eles corriam lá em casa, e ninguém ia atrás.

Francisca Nogueira da Silva (2006), que nasceu quando seus pais eram moradores de Agripino Costa, comenta que:

Nessa época Agripino tinha muitos moradores, mais ou menos uns sessenta nas terra que ficam ali pelo Brejinho, Orelha D’onça, Canto de Cima e Canto de Baixo. Quando alguém adoecia o vaqueiro vinha a cavalo atrás de um carro, aí seu Agripino mandava um carro ir buscar para transportar o doente. Tudo lá a gente contava com o Agripino Costa (...) Ouvi algumas pessoas falando que se não votasse nos candidato dele, podia ele botar pra fora das terras.

As maiorias das famílias que nos municípios piauienses conseguiram lugar de destaque na liderança política de suas cidades são grandes proprietárias de terras, fato que as coloca numa situação diferenciada daqueles que não são latifundiários. A divisão de classes nas terras piauienses se deu em decorrência dessa diferenciação. Explicando sobre a divisão dos blocos sociais no Estado do Piauí, Martins (2002, p.83) reflete que:

O fulcro balizador das diferenciações sociais é fundamentalmente a condição dos diversos setores sociais no acesso à posse da terra. Com efeito, em função da propriedade da terra ficaram estabelecidos historicamente, no Piauí, dois blocos sociais nitidamente diferenciados: Os grandes proprietários e a massa de trabalhadores, ligados diretamente ou indiretamente à produção agrícola.

A propriedade rural muito influenciava na definição do estrato superior, vemos que esse processo teve suas origens através das ações do governo que, utilizando a política sesmarial, onde o mesmo elegia o grupo de proprietários rurais, legando a estes a condição de senhor de terra. Através dessa política os proprietários locais, identificado na distribuição indiscriminada dos imóveis rurais entre os herdeiros legítimos, eram qualificados como “homens de bem”, o que criava uma distinção social, habilitando-os a ocupar cargos e funções públicas. (BRANDÃO, 1995, p.312)
Observando a fala de Chico Calú (2006), vemos que por se acharem num estrato superior do local onde moram, os “coronéis” joaquimpirenses procuravam sempre se sobrepor diante daqueles que viviam ao seu redor, principalmente diante do mais humildes. Sobre o relacionamento de Agripino Costa com o povo Chico Calú (2006) explica que:

Os pobre quando chegavam lá (na casa de Agripino), não entravam pela sala, pela porta da sala, entravam pelo lado da cozinha. Mas, que “caboco” pra entrar lá de carona, como entra na casa de qualquer outros políticos que “existe” por aqui, “num” entrava. Entrava aqueles da iguala dele.

Como prefeito, Agripino Costa governou de 1963 a 1966 pelo PSD e depois pela ARENA. Essa primeira eleição foi disputada contra o Coronel Leôncio da UDN. Foi uma eleição histórica em Joaquim Pires, visto que foi a única onde os candidatos eram os próprios coronéis, além de ter sido nessa eleição, que o município elegeu o primeiro prefeito através do voto (seu primeiro prefeito Joaquim Pires Costa foi nomeado, isso devido a um acordo político na esfera regional).
Em 1966, Agripino Costa apresentou e elegeu seu sucessor Pedro Agápito da Silva, o Pedro Justino. Após a saída de Pedro Justino, apresentou o irmão Bernardo Costa em 1970 onde sofreu a primeira derrota numa eleição que aos olhos do grupo que o apoiava estava ganha, porém, foram surpreendidos pela chapa formada por Antônio Miroca – Prefeito e Pedro Leôncio – Vice-Prefeito, que faziam parte do grupo político do Coronel Leôncio, e a sigla partidária era a UDN.
Depois desta derrota, ele mesmo entrou para a disputa contra a chapa de Zé Leôncio – Prefeito e Zé Maria Marica – Vice-prefeito em 1972, sofrendo a segunda derrota. Nas eleições de 1976 apresentou o genro Zé Maria Marica contra a chapa de Antônio Miroca – Prefeito e Santino Santos – Vice-Prefeito sofrendo a terceira derrota (TRE-PI, 2006).
Estima-se que Agripino Costa, esteve à frente do poderio político de Joaquim Pires, por mais ou menos 20 anos, sofrendo seu declínio político em 1970 com a primeira derrota.
Foi curioso o fato de seu declínio político, levando em consideração toda a sua influência e poderio. Indagado sobre sua opinião, do por que de Agripino ter perdido o poder político de Joaquim Pires e não ter mais conseguido de volta, Chico Calú (2006) responde que:

Ele perdeu assim... quase por orgulho, “né”! Por besteira. Ele perdeu a política, e aí quando foi um dia, chegou um homem, eu “num” “tô” lembrado quem era a pessoa que chegou pra ele:
- “Seu Agripino, o senhor perdeu a eleição?”.
-“Não, ‘num’ perdi a eleição não... quem perdeu a eleição foi os ‘caboco’. Eu paguei foi uma  promessa que devia a São Lázaro, de encher o bucho dos cachorro.
 Aí você se revolta com aquilo, aí ‘num’ vota mais nele, só isso. Esse é um modo do político tratar os eleitor? Eu acho que não seja”.

Para Marlene Ramos (2004, p.29), o declínio político de Agripino Costa se deve ao fato de que:

(...) com a administração, contrária a expectativa do povo, o mesmo só teve o direito de eleger o seu sucessor Sr. Pedro Agápito da Silva, não  tendo mais condição de continuar no poder, tendo o povo concluído que Agripino tinha o intuito de tornar Joaquim Pires, propriedade sua; tendo grande parte de seus correligionários se revoltado e pondo-o fora do poder.

Após sua saída de Joaquim Pires, Agripino da Silva Costa passou a morar com uma filha na cidade de Fortaleza, onde faleceu em 15 de fevereiro de 1990.
Em relação ao “coronel” da família dos Leôncios, vemos que era um homem temido por todos por causa de sua fama de valente. Numa entrevista a seu filho Pedro Leôncio de Sales (2006), ele confidencia que: “o papai não ia ‘mijar’ se não fosse com o revólver na cintura”. Segundo Pedro Leôncio (2006), seu pai possuía um arsenal em casa, que ia desde um revólver 38 a um rifle surdo. Explicando o motivo de ter tantas armas, o entrevistado fala que seu pai era perseguido por causa da riqueza que possuía. O “Coronel” Francisco Leôncio de Sales não temia sequer a polícia, a quem desafiou algumas vezes quando estiveram em sua casa. Seus atos de valentia quase chegaram a se tornar lendas na cidade, onde alguns antigos moradores do município comentam com certo medo, fatos como algumas mortes cometidas pelo coronel Leôncio. Uma delas seu filho Pedro Leôncio (2006) relatou em entrevista:
 Inventaram uma vez que ele tinha enterrado um homem de cócoras, mas é mentira. O que aconteceu foi que apareceu um negro pra trabalhar com ele chamado Benedito. Ele ficou trabalhando até de guarda-costa do papai por que ele era grandão. Pra onde o papai ia, o Benedito ia com ele, ele era o homem de confiança do papai. Um dia eu fui comprar sabão em Luzilândia no finado Bernardo Leão, aí me disseram assim: “Rapaz, esse homem tá aqui?”. Eu respondi: “Tá lá em casa com o papai, ele é de Barroquinha, Ceará”. E o homem me disse: “Rapaz, isso rouba sonhando... ele amansa, amansa, amansa e quando pensar que não ele vai e rouba”. Quando eu cheguei em casa falei para o papai e o papai falou pra ele: “Tá aqui seu Benedito seu pagamento. De meio-dia pra tarde não precisa mais trabalhar não. Pode ir embora, desocupe minha fazenda, você é um ladrão fino, e com ladrão eu não luto”. Ele se calou e a negrada ficou todo mundo calado por que temia o papai, mas depois o Benedito ficou perseguindo. Ele disse que ia deixar o papai mais pobre do que ele. Até que chegou ao ponto de mandar um recado para o papai dizendo que tinha levado duas facas pra matar ou o papai ou o Zé Leôncio, e a outra faca era pra matar o Pedro Quaresma. Ele tinha levado também um saco pra botar os pedaços deles. Aí o Zé Leôncio chagou lá em casa e disse assim: “Papai, o Benedito tá lá na casa do vaqueiro e mandou dizer que vai me pegar lá no Canto Feio”. O papai respondeu: “Pois vá”. O papai mandou com o Zé Leôncio dois capangas dele... o Manel Joé e o Manel Francisco que era da Paraíba. A cada um o papai deu um rifle. Foram a cavalo e quando o Zé Leôncio chegou lá deu voz de prisão ao Benedito. O Benedito respondeu: “Homem não se prende, se mata”. Aí Benedito jogou uma faca no Zé Leôncio e acertou na cela do animal e nessa hora o Zé Leôncio pulou e ficou enganchado. O cavalo começou a rodar com Zé Leôncio enganchado. Lá em casa o papai falou para a mamãe: “Ineizita, meu filho não tá passando bem não, eu tô com um palpite e eu vou já lá”. O papai pegou um cavalo que ele tinha chamado argentino, e quando chegou lá estava o Zé Leôncio dizendo para os capangas atirar e eles não atiravam com medo. O papai era um bom atirador e de longe deu grito pro negro. O papai deu um tiro e pegou quadro dedos acima do umbigo do Benedito. O “pau fumaçou” ele caiu, aí a faca caiu da mão dele, ele meteu a mão e puxou outra faca mas lá ele morreu... ficou lá no meio do tempo. O papai mandou chamar o delegado pra tirar o corpo delito, quando o delegado chegou o Benedito já estava todo duro, aí mandaram enterrar ele e enterraram lá no Mandu. Quem foi processado pela morte do Benedito foi o Zé Leôncio por que nesse tempo o Bossuet era seminarista. Naquela época se o seminarista fosse filho de criminoso não podia ser ordenado padre. Aí o Zé Leôncio assumiu, mas nunca foi preso.

Nas terras do Coronel Leôncio, a lei que prevalecia era a dele. Até mesmo a polícia era temerosa ao adentrá-las. Na política Francisco Leôncio, só veio a entrar nas disputas após a emancipação da cidade, onde em 1962 decidiu candidatar-se a prefeito contra a chapa de Agripino Costa – Prefeito e Clarindo Lopes Castello Branco – vice. Segundo Pedro Leôncio (2006), seu pai perdeu essa eleição por que a mesma foi fraudada:

Ele tirou muita vantagem e dizem que ele ganhou bem as eleições, mas o negócio era que as urnas passaram mais de cinco dias aqui em Joaquim Pires antes de ir para Buriti dos Lopes... e aqui abriram as urnas e tiraram os votos do papai e deixaram os do coronel Agripino.

Nas eleições de 1962 teve como Vice-Prefeito Antônio Miroca, indicado pelo Deputado Estadual Wenceslau Sampaio. Francisco Leôncio não teve a oportunidade de disputar as eleições de 1966, pois, faleceu em 1964 vítima de problemas cardíacos. A liderança do grupo ficou a cargo do seu filho José Leôncio que em 66 entrou contra a chapa apoiada por Agripino Costa, sendo ela Pedro Justino – Prefeito e Joaquim Pires Costa – vice, acontecendo desta forma a segunda derrota do grupo (TRE-PI, 2006).
O grupo político originado pelo coronel Leôncio só alcança sua primeira vitória com a chapa de Antônio Miroca - Prefeito e Pedro Leôncio - Vice-Prefeito em 1969, contra o candidato de Agripino Costa, seu irmão Bernardo Costa. A Segunda vitória do grupo veio em 1972 quando foram apresentado a candidato José Leôncio de Sales tendo como vice o cunhado de Agripino Costa, Zé Maria Marica. Nas eleições de 1976, Antônio Miroca vence novamente tendo como vice Santino Santos, e é nesse mandato que ele fragiliza a família dos Leôncios tirando-os de uma vez por toda da liderança política da cidade de Joaquim Pires.
Nos processos eleitorais do município eram frequentes as fraudes eleitorais. Durante nossa pesquisa encontramos algumas pessoas que fizeram parte dessas falcatruas e concordaram em falar quais eram essas fraudes e de que forma aconteciam, porém, não concordaram em ser identificadas. As fraudes eleitorais sempre estiveram presentes no cotidiano político de Joaquim Pires desde sua emancipação política, tornando-se uma permanência histórica na cidade. Na hora das oligarquias agirem para fraudar eleições, não medem esforços passando por cima de tudo quanto é lei.
LEAL (1997, P.230) explica que:

Até o ano de 1930, embora as instituições fossem democráticas no país, as eleições não mereciam confiança. As oligarquias usavam de falcatruas no intuito de fraudar eleições, se tornando comum votos de defuntos e ausentes, assim como também assinaturas falsas nas conhecidas eleições a “bico de pena”, na qual o próprio mesário fazia as assinaturas da ata de votação, dispensando a presença dos eleitores. Se estes recursos não bastassem e ocorressem resultados que não atendessem às elites da República, estas contavam com a "Comissão de Verificação de Poderes" que resolvia as "dúvidas" cassando o mandato dos indesejáveis dissidentes e opositores e diplomando os candidatos do interesse do governo. A diplomação acabava sempre dando muita confusão, pois as listas eram na maioria das vezes falsificadas e os resultados manipulados. A política era toda planejada em torno dos interesses dos governantes e das classes dominantes, o que fazia com que se tornasse quase impossível aos governistas perderem eleição.

Na década de 1960, eram mais comuns as seguintes fraudes eleitorais na cidade de Joaquim Pires:
-                  A marcação da unha;
-                  O sumiço das fichas de votação;
-                  A falta de registro no cadastro do alistamento;
-                  O voto duplo.
A marcação da unha. Quando ainda eram usadas as chamadas “chapas eleitorais” nas eleições de Joaquim Pires, o grupo que estava no poder da cidade nomeava a maioria dos presidentes de seções com pessoas que integravam o grupo. A orientação que era passada aos presidentes era que, no momento em que ele fosse entregar a chapa para o eleitor, deveria colocar a unha pressionando um pouco o papel para que ficasse a marca no lugar que o eleitor deveria assinalar um “X”. Por esse motivo, do dia da eleição a maioria dos presidentes de seção estavam com a unha do polegar crescida e, logo após o término da votação o mesmo cortava a unha para que não fosse levantada nenhuma suspeita.
O sumiço das fichas de votação. Essa tática era muito arriscada, porém, muito eficiente para quem queria fraudar uma eleição. Antes do dia da votação, as fichas iam para a casa do presidente da seção, porém, com antecedência o presidente com os correligionários já haviam combinado de como iriam cometer a fraude. Durante a madrugada acontecia o encontro do presidente e o correligionário e, as fichas de votação das pessoas as quais se sabia que votaria no candidato adversário eram retiradas da bolsa que tinha vindo do Fórum de Luzilândia, para que na hora da votação este eleitor não pudesse votar devido a ausência da ficha.
A falta de registro no cadastro do alistamento. Até algum tempo atrás, as eleições eram ainda mais fáceis de serem fraudadas na cidade de Joaquim Pires. Um dos fatores que muito contribuía pra isso era o fato de que a própria prefeitura era quem enviava funcionários para Luzilândia para preencher as fichas de cadastro do alistamento. Obviamente que quem estava no poder iria preencher mais fichas dos seus eleitores do que dos eleitores dos seus adversários. E era justamente isso que acontecia. Como nas cidades pequenas todo mundo se conhece e sabe quem vota em quem, muitas pessoas que votavam na oposição ficavam sem seus cadastros do alistamento. Por algumas vezes foram encontradas fichas de cadastro de eleitores da oposição dentro de poços d’água da cidade.
O voto duplo. Era uma tática inteligente e habilidosa. Durante a noite quando o presidente de seção com um correligionário abria a sacola dos cadastros de votação, eles simplesmente substituíam fotos 3x4 de algumas fichas, colocando no lugar delas, fotos de algum eleitor do grupo que não era muito conhecido na cidade, com o qual já haviam combinado a fraude, podendo o mesmo votar em duas ou três sessões no mesmo dia.
As narrativas que aqui foram vistas nos auxiliaram a ter um melhor entendimento sobre o cenário político da cidade de Joaquim Pires na década de 1960. Foram narrativas construídas a partir das entrevistas realizadas com testemunhas que viveram a época – seja votando ou sendo votado.
É importante termos o cuidado na hora de interpretarmos o que foi dito nas entrevistas pelos líderes políticos ou por pessoas fortemente ligadas a eles, por que como explica MONTENEGRO (1992, p.57):

Existem diferenças marcantes entre as entrevistas com pessoas comuns e com líderes políticos, comunitários, religiosos, esportivos, estudantis... Entre esses últimos observa-se constantemente uma nítida preocupação em construir um discurso que tenha uma lógica, uma coerência, e que fortaleça a imagem que o entrevistado deseja pública. Para eles as marcas da memória já estão organizadas segundos um código previamente definido.

A história deixa entender que com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930 houve o fim do coronelismo na política brasileira, porém, não é isso que foi verificado na cidade de Joaquim Pires através desta pesquisa. O que vemos na cidade objeto de estudo é um cenário de permanências históricas no que diz respeito aos costumes ligados à politicagem da República do Café-com-Leite, política essa, vivida na República Velha da história do Brasil. Essas práticas cheias de ilicitudes e manipulação das pessoas mais desinformadas marcou profundamente a vida dos joaquimpirenses de tal forma que, ainda hoje naquele município essas práticas são vistas como atitudes normais do meio político.


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¹ - Fogo: Vocábulo de uso técnico-administrativo significa casa, os arranjos socioeconômicos dos moradores e os moradores, que poderiam ser parentes sanguíneos, afim, agregados ou escravos (BRANDÃO, 1995, p.99).


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