5. AFLORANDO AS REMINISCÊNCIAS

Meu nome é Francisco Pereira da Silva, mais conhecido como Chico Calú, nasci do dia 07 de fevereiro de 1942, em Joaquim Pires. Sou filho de João Pereira de Sousa e Carolina Maria da Conceição.
Durante o decurso deste trabalho, tivemos a preocupação de não assumirmos uma posição positivista, transformando em heróis os precursores oligárquicos joaquimpirenses. É importante deixar claro que estes homens não passavam simplesmente de homens comuns, assim como outros homens quaisquer, que sem o apoio do grupo dos quais faziam parte, não teriam em suas mãos nenhuma forma de poder, assim como sem o apoio do povo não teriam se tornado conhecidos e assim, vemos que eles não seriam sem o povo, mas o povo seria sem eles.
As narrativas que aqui leremos nos auxiliarão num melhor entendimento do Joaquim Pires (cidade) no ponto de vista dos nossos entrevistados. Foram narrativas feitas a partir das entrevistas realizadas na cidade de Joaquim Pires, com atores do cenário político – seja votando ou sendo votado.
É importante termos o cuidado na hora de interpretarmos o que foi dito nas entrevistas pelos líderes políticos ou por pessoas fortemente ligadas a eles, por que como explica MONTENEGRO (1992, p.57):

Existem diferenças marcantes entre as entrevistas com pessoas comuns e com líderes políticos, comunitários, religiosos, esportivos, estudantis... Entre esses últimos observa-se constantemente uma nítida preocupação em construir um discurso que tenha uma lógica, uma coerência, e que fortaleça a imagem que o entrevistado deseja pública. Para eles as marcas da memória já estão organizadas segundos um código previamente definido.


A entrevista é um documento que no meio acadêmico ainda podemos encontrar quem não lhe dê importância, quando na realidade ela é fundamental. A questão do documento ainda nos leva a uma crítica sobre a visão positivista de documento, aquela visão de que o mesmo é algo que revela ao historiador, objetivamente o passado verdadeiro. Porém, toda a “revolução” historiográfica a partir do final do século XIX, principalmente nas primeiras décadas do séc.XX, ampliaram de forma produtiva a própria concepção de documento. É através dessa ampliação da noção de documento que se é capaz de dilatar o campo de ação do historiador.
E aí chegamos ao campo da oralidade, que vem a se constituir em fonte para a produção do historiador a partir de 1960.
Ao fazermos uso das técnicas da oralidade durante as entrevistas desta monografia, tratamos de deixar o entrevistado à vontade para expor seus pontos de vista e suas lembranças, sentindo-se livre da obrigação de atender a quaisquer de nossas expectativas.
Buscamos satisfazer o nosso ego, através de entrevistas sob a perspectiva da história de vida, buscando revisitar as experiências, acontecimentos, enfim, momentos que para o entrevistado são de grande significado, fazendo assim um resgate da memória. Segundo Pollak (1992, p.56), “a história de vida apareceu como um instrumento privilegiado para avaliar os momentos de mudança, os momentos de transformação”.
Talvez essa narrativa não nos traga nada de novo, nos revelando o desconhecido, mas isso para nós não é o mais importante, visto que se isso viesse a acontecer seria uma conseqüência do processo investigativo, o que nos faz lembrar MONTENEGRO (1992, p.57) quando o mesmo explica que:

Muitas entrevistas relatam marcas que algumas vezes em nada se diferenciam do que está registrado em outras fontes. No entanto, a dimensão da memória, mesmo quando coincide ou reproduz os significados sociais institucionalizados, oferece elementos para reflexão acerca da força das marcas das histórias que se tornaram hegemônicas.

Nos sentiremos satisfeitos se junto aos entrevistados visitarmos lugares diversos que se relacionam ou se comuniquem através de uma lógica para nós desconhecidas. E aí é chegada a hora do resgate da memória, que aqui deixaremos arquivada como algo que para alguns será algo novo, desconhecido. E esse novo nunca deixará de ser novo, por que sempre chegará pela primeira vez ao conhecimento de alguém que o busca. E nesse aspecto a memória nunca envelhece e alcança a imortalidade.
Assim, MONTENEGRO (1992, p.56) expõe suas reflexões a respeito da memória:

A memória possibilita resgatar as marcas de como foram vividos, sentidos, compreendidos determinados momentos, determinados acontecimentos; ou mesmo o que e como foi transmitido e registrado pela memória individual e/ou coletiva.

É essa memória aqui resgatada que será narrada, deixando fluir a interpretação de quem quer que venha a ler este trabalho, e assim como um engenheiro projeta a sua obra usando um compasso e um esquadro, nós procuraremos junto às entrevistas e técnicas da oralidade, fazer a narrativa da forma mais perfeita que o nosso raciocínio, idéias e ações nos permitirem.
O papel do narrador  tem sido agraciado por diversos autores. Elogiados, são tidos como artesãos da comunicação (BOSI, 1994, p.88). BOSI (p.90) comenta que:

Entre o ouvinte e o narrador nasce uma relação baseada no interesse comum em conservar o narrado que deve poder ser reproduzido. A memória é a faculdade épica por excelência. Não se pode perder, no deserto dos tempos, uma só gota da água irisada que, nômades, passados do côncavo de uma para outra mão (...) O narrador está presente ao lado do ouvinte. Suas mãos, experimentadas no trabalho, fazem gestos que sustentam a história, que dão asas aos fatos principiados pela sua voz. Tira segredos e lições que estavam dentro das coisas, faz uma sopa deliciosa das pedras do chão (...) A arte de narrar é uma relação alma, olho e mão: assim transforma o narrador sua matéria, a vida humana.

5.1 - Francisco Pereira da Silva: Chico Calú
 
Meu nome é Francisco Pereira da Silva, mais conhecido como Chico Calú, nasci do dia 07 de fevereiro de 1942, em Joaquim Pires. Sou filho de João Pereira de Sousa e Carolina Maria da Conceição.
Conheci o senhor Agripino Costa e, da minha família os que sabiam ler votavam nele. Na época eu não votei nele por que eu não votava ainda. Nós fazíamos a torcida, a campanha por ele, mas na época eu não votava ainda. O primeiro candidato que eu votei foi para o Pedro Justino, que era apoiado pelo Agripino Costa. Na época ele pagou o mobral pra gente aprender a ler e escrever o nome. Naquela época era muito difícil gente da minha idade saber escrever o nome. Aí ele nos botou pra estudar uns dois a três meses, e aí aprendemos e votamos nele. Quem nos ensinava era a Socorrinha do Costinha. Quando não era ela, era o Chaga Costinha.

Conheci a esposa do senho Agripino e ela também era do mesmo jeito dele, você sabe que a família é difícil dá igual, mas nesse momento, nessa hora deu igual... ele com ela. Ela tratava bem do povo enchendo o bucho das pessoas. Dá de comer peão, ela gostava de ajudar nesse ponto, né. Ver a pessoa com fome, levar pra casa dela e dá de comer.

Naquela época o senhor Agripino não recebia o povo pobre na casa dele, né. Ele recebia sempre o povo rico, os pobre quando chegavam lá na casa dele, não entravam pela sala, pela porta da sala, entravam pelo lado da cozinha. Se ele tivesse no comércio dele, o “caboco” chegava ali na parte do comércio, entrava no comércio e falava com ele, né. Mas, que “caboco” pra entrar lá de carona, como entra na casa do Antônio Miroca, Santino, de qualquer outros políticos que existe por aqui, não entrava. Entrava aqueles iguais a ele. Era assim. Naquela época não tinham esses tratamentos de hoje. O povo tinha essa obrigação. Ele dizia assim: “Fulano de tal é o candidato, vamos votar nele, e pronto”. Era aquilo, né! A política do senhor Agripino rolava entre ele e o povo de Buriti, eu num sei qual era o chefe dele. Ele era assim mas, na hora de votar o povo votava nele por que ele trabalhava, né. Ele pagava o povo... ele era honesto. Esses Costas todos eram honesto, todos. O que faltava nele era simpatia com o povo. Ele foi um bom prefeito. Foi sim... ele foi assim por que não enganava ninguém, né. O serviço que mandava fazer ele pagava.

Ele tinha uma caminhonete. Mas essa caminhonete não fazia uma campanha. Num dava uma campanha. Aí vinha do Buriti, daqueles chefe político, que lutavam com ele. As campanhas eram com carros que vinham de fora, aqui não tinha. Nas campanhas tinham umas palestras, tinha uns comícios, umas festas que aconteciam ali pelo Baixão... Santo Antônio. Aqui dentro da cidade lembro que aconteciam comícios nos colégios, por que não era proibido.

O velho Agripino foi o interessado pra botar isso pra cidade, por que era só ele que tinha aqui. O povo não podia fazer isso. Era só ele. Quando foi no dia 28 de dezembro foi o movimento, né. 28 de dezembro, aqui já estava mole de chuva, aí ali, você sabe onde é a CONDEVALE? Ali morava uma velhinha, mãe da Isabel do Bacana, morava assim pra cima daquele morro. Ali perto tinha uns pés de capitão de campo. Ali não tinha “arrodeio” para os carros passarem, tinha que passar por ali. Ali nós éramos uns oito homens. Nós estávamos prontos ali, pra na hora que vinha os carros, nós estávamos ali.
Era difícil não ficar um carro. Na hora que batia era deslizando. Nós tínhamos que passar todo mundo empurrando aquele carro. E aí, quando errava a bitola, aí caía dentro do buraco, aí atolava. Aí nós íamos desatolar aquele carro até... Pra entrar pra debaixo, quando saia debaixo dos carros, parecia uns porcos (risos). Nós ficamos lá o todo tempo, até depois de tudo. Carro vindo, carro voltando, carro vindo, carro voltando, foi até quando terminou tudo, né.
O senhor Agripino perdeu o poder por causa das conversa, andava tratando mal o sujeito, né. Dizem que chegou um homem, eu não estou lembrado quem era a pessoa que chegou pra ele e falou: - “Seu Agripino, o senhor perdeu a eleição?”. Aí ele respondeu: “Não... não perdi a eleição não... quem perdeu a eleição foi os ‘caboco’. Eu paguei foi uma  promessa que devia a São Lázaro, de encher o bucho dos cachorro.” Por que no dia da eleição não tem a comida? Aí você se revolta com aquilo, aí não vota mais nele, só isso. Esse é um modo do político tratar os eleitor? Eu acho que não seja.

Lembro que na época que o Antônio Miroca entrou na campanha contra o Agripino Costa, o povo ficou do mesmo jeito de todas as campanhas... com aquela dúvida. Aí na época do velho Agripino com o Antônio Miroca, foi só o orgulho dele que fez com que ele perdesse, aí a negrada votaram tudo no Antônio Miroca.

Com a entrada do Antônio Miroca na prefeitura a mudança que teve foi essa... o pobre, o “caboco” tinha o direito de falar com ele, tinha o direito de falar com a Dona Maria, fosse aonde fosse, fosse em casa... Fosse pela rua, se eu encontrasse falava... e quando a pessoa precisasse de uma coisa... pelo menos eu, né... Quando eu ocupava seu Antônio, eu nunca vim com a mão “abanando” de lá. Ou que fosse do tanto que eu falasse, ou mais pouco, mas ele me arranjava, né. Quando ele não tinha, mas ele marcava o dia de eu ir. Aí eu ia, e aí ele me arranjava. E assim acontecia com os outros eleitores. Foi assim com todos.

Conheci o Pedro Justino, trabalhamos juntos. Trabalhei muito com ele Pedro. Nem só em tempo de política, só tempo dele prefeito, que antes dele ser candidato, nós já trabalhávamos com ele. Eu trabalhava em todo serviço. Era em Combóia, era... em máquina batendo palha. Toda coisa eu trabalhava pra ele. Era nos capinais, era em roça... em tudo. Ele era assim meio cabeça quente, mas era bom... servidor. Na casa do Pedro Justino entrava na sala, ia pra cozinha, se fosse possível ia no quarto dele dormir, né. Tanto ele como a mulher dele, era tudo uma coisa só. Ele tinha simpatia com o povo.

Na campanha política ele ganhou bem fácil, né. Ele era bom. Chegasse um “caboco” na casa dele, assim na época que nós estamos e dissesse assim: fulano de tal, como é que tá o seu legume?. Ele dissesse que estava ruim por que estava no mato, ele perguntava quantos dias de serviço pegava. Aí as pessoas diziam. Ele perguntava se o “caboco” tinha o que comer pra dá para os trabalhador. Se tinha dizia que tinha, se não tinha, dizia que não tinha. Se tivesse o que comer ele mandava os trabalhador, e se não tivesse, e se o serviço fosse amanhã, dizia que o “caboco” viesse buscar a comida hoje pra fazer comida amanhã para os trabalhadores. Aí o “caboco” vinha. No fim d’água era que vinham pagar o Pedro Justino com legume.

Ás vezes nós discutíamos, eu com ele, por que ele era muito ignorante, e na hora da ignorância a gente não respeitava, e eu também tinha que dizer umas boas pra ele, né.

Como prefeito ele trabalhava muito. Na administração dele, ele trabalhou muito. Só que ele era assim meio “destabacado”. Ali da Placa ele abria uma estrada manual, até a Boa Vista, no tempo dele prefeito, né. Ele disse que não ia pedir máquina, era pra dá serviço pro povo. Esse mundo de praça aí, foi ele quem fez, né. Na minha opinião ele não foi o melhor prefeito que Joaquim Pires já teve. O melhor que estou encontrando é esse agora. Pra atender o povo assim com serviço, pagar, e estar trabalhando... é o Genival, né.

Conheci também o senhor Francisco Leôncio, mas isso era longe, por que era ele pra lá e a gente aqui, né. Mas eu via ele chegar aí. Ele era um velho gordo. Nós não tínhamos muito contato não. Ele também tinha a cabeça quente. Pelo menos o povo da casa dele chegava lá e ele dava cobertura, assim eu vejo o povo contando. Não vou falar mais nada dele por que nós não tinha contato um com o outro, né.


5.2 – Antônio da Silva Ramos: Antônio Miroca

Meu nome é Antônio da Silva Ramos, mais conhecido como Antônio Miroca, nasci no dia 28 de setembro de 1928, no povoado contendas, do município de Joaquim Pires. Sou filho de Benvindo da Silva Ramos e Almira da Silva Rocha. Minha profissão é... faço tudo, né. Fui comerciante, ainda sou. Pecuarista, agricultor... tudo isso sei fazer, fiz tudo isso. Agricultura, pecuarista... comerciante, tudo isso já exerci, que política não é profissão, é uma coisa diferente. Antes de vir morar em Joaquim Pires eu morava no povoado Forquilha, deste município, cheguei lá em 1951.  Cheguei na sede do município (zona urbana) em 1963.
Antes de eu entrar na política eu era apenas um simples eleitor em 1962. Através do José Leôncio de Sales, foi que entrei na política, contra o candidato a prefeito. Eu era o vice-prefeito na chapa do candidato a prefeito Leôncio Sales, e daí de 1962 foi que comecei. De lá pra cá, continuei trabalhando na política até hoje, de 1962 pra cá.
Naquela época, como hoje ainda, a gente sempre tem as pessoas que a gente admira e que vota naquelas pessoas. Nós naquela época votava era no Coronel Agripino Costa, é quem era residente aqui no povoado Porteirinha e era um político e a gente votava no Agripino Costa. Ele era um chefe político e minha posição política era essa. Votava sem nenhuma exigência de nada, naquele tempo era muito trancado. Naquele tempo, não tinha conhecimento de coisa nenhuma, a  obrigação nossa era votar e mais nada. Eu votava aqui em Porteirinha. Tinha uma urna aqui no povoado Porteinha, né! Nós votávamos aqui.
 
Na época eu não tinha nenhuma relação com os políticos. As coisas eram diferentes de hoje. A gente conhecia Agripino, que era um vizinho da gente, muito perto. Se conhecia, né! A gente não tinha era assunto pra ficar tratando um com o outro.
Naqueles tempos passado, de 1970 pra trás, as coisas eram escondidas demais. Eu era prefeito aqui, nunca veio uma pessoa de Teresina aqui em Joaquim Pires. Do fim do município, do Santo Antônio pra cá, a coisa mais difícil era ver uma pessoa do interior em Joaquim Pires. Então era uma coisa escondida, o povo tinha que rezar naquela cartilha do Coronel Agripino. Realmente o Coronel Agripino, era um cidadão de bem, e... um homem muito inteligente, que conversava, conquistava todo mundo, e o povo tirava o chapéu pra ele. Ele naquele tempo era o homem daqui.
A casa do Agripino era aquela que ele sempre morou. O Raimundo Monteiro morava naquela onde mora hoje a velha esposa do Pedro Barbado. Ali era uma casona grande, do finado Raimundo Monteiro, e na frente da casa do Raimundo Monteiro, o Agripino fez uma casinha redonda pra poder ser o colégio. A professora era Adélia Portela, nesse tempo. De formas que eram assim as coisas.
Quando entrei na política, eu era aliado da família Leôncio e depois houve o rompimento. A política trás todas essas coisas. Eu entrei na política através dos Leôncios, fui eleito a prefeito em 1970, e assim trabalhei por 2 anos como prefeito, e na minha saída apresentei meu amigo José Leôncio de Sales, que foi quem me botou na política, e foi eleito.
 Depois na saída do Zé Leôncio eu entrei novamente, e... fui eleito. Houve um pequeno rompimento entre eu e o Zé Leôncio... numa época, não me recordo bem. Ele criou um esquema político com um filho dele que é médico que chegou aqui em Joaquim Pires, aí colocou o filho como médico e como candidato a prefeito e, isso parece que foi em início de 78 (por aí sim), foi em 88, e aí eu tinha meu candidato, eu não apoiei, e aí veio o rompimento daí pra cá. Teve um desentendimento entre esquemas políticos, grupos políticos.
Por duas vezes perdi eleição para Agripino Costa, mas nunca pensei  em desistir. Fui candidato a vice-prefeito na chapa do candidato a prefeito Leôncio de Sales, perdemos em 62. Aí passaram-se 4 anos, em 66 me candidatei a prefeito e o coronel Agripino colocou o candidato a prefeito deles que foi o Pedro Agápito da Silva, aí eu perdi. E aí quando foi em 70, eu me candidatei novamente a prefeito pela terceira vez... contra o Coronel Agripino, que tinha o candidato do grupo deles lá, que era quem mandava na situação naquela época e aí eu consegui derrotá-lo. Consegui me eleger e de 70 vim perder uma eleição no ano passado, em 2004. Deste que ganhei em 70 ainda não tinha perdido eleição.
Eu fui indicado pra ser o Vice-Prefeito na chapa dos Leôncios em 62 por que naquela época o coronel Agripino era um homem forte na política e o Leôncio morava na Mimosa, e aqui na região de Porteirinha, não tinha uma pessoa que dissesse que era candidato contra o Coronel Agripino, e eu naquele tempo achei por bem não votar nele Agripino por questões pessoais, questão minha com ele e eu disse que votava contra e sempre trabalhei para ser independente, não dependia dele, não dependia de ninguém, e eles me escolheram. Quem me escolheu pra ser o vice do Leôncio, foi o deputado Wenceslau de Sampaio, que nunca tinha me visto, e nesse dia que me viu, disse que o candidato a Vice-Prefeito era aquele homem, que lá está bem “aculá”, aquele rapaz. Não sabia nem quem era, não sabia nem do meu nome, disse: “eu conheço cara de homem, e ele é homem”. O partido era a UDN.
Formar um  grupo imbatível na política de Joaquim Pires é muito fácil e difícil. Se conservar um grupo político que se diga ter liderança é trabalhoso. A gente consegue isso quando a gente muda os trabalhos... a administração. Naquele tempo as pessoas de Joaquim Pires eram muito sofridas. Veja bem... quando eu assumi em 70 o município tinha doze escolas, doze. Todas na zona rural funcionavam em residências familiares, não tinha prédio próprio para funcionarem a escola.
As pessoas naquela época que votavam no esquema do Coronel Agripino, votavam enganadas, por que votavam sem ter nada de volta de retorno. Não tinham saúde, não tinham atendimento de médico, não tinham educação, então... quando eu assumi a prefeitura, do meu jeito eu consegui mudar as coisas. Eu comecei a construir colégios no interior, colocando as professoras, pagando direito, o melhor que fiz foi dar assistência às pessoas que precisavam de saúde e atendimento médico. Com isso eu me tornei líder do município por que quando adoecia uma pessoa na zona rural eu botava uma enfermeira e uma filha que eu tinha para ir pegar aquela pessoa doente e depois levar para o hospital de Esperantina. Nunca deixei uma pessoa morrer à míngua. No meu governo, nunca deixamos uma mulher morrer de parto. Durante esse tempo todo, me parece que chegou falecer duas mulheres de parto.
Durante muitos anos que nós mandávamos, tanto fazia ser eu prefeito, como se fosse uma pessoa que eu tivesse colocado, a história... a rotina era essa: dar assistência às pessoas doente e, principalmente a mulher, no ato de ter uma criança, não podia ser negado. E com isso me tornei um líder imbatível. Até agora mesmo, ainda cheguei a dar trabalho, por isso... por essa razão. O homem pra se tornar líder de uma população, precisa ele ter vários caprichos bom, ser verdadeiro, dizer as coisas boas para o povo e cumprir, e isso... dar assistência principalmente na área da saúde, foi o que fiz.
De vez em quando a gente encontra alguém da cidade de Joaquim Pires que a gente sabe que dependeram de mim e que hoje me critica. Essa é uma questão mesmo que existe do ser humano. Aqui em Joaquim Pires, só quem não dependeu de mim dos políticos, foi exatamente o senhor Genival que é o prefeito atual, mas, o resto todos.
Não sei por qual é a razão que eles criticam, não tenho motivo pra ninguém criticar ninguém. Eu me pergunto, o que eu fiz... o que foi que eu fiz? Uma vez, tinha uns camarada aqui... eu era prefeito, um sujeito pelejando pra eu ajudar ele, eu sempre levando ele com carinho e tal, até que nesse dia tinha muita gente e me deu vontade de explicar pra ele a verdade. Eu disse: “Rapaz, você quer que eu lhe ajude, mas eu não posso lhe ajudar, por que político tem que ser político. Ajuda quem me ajuda”. Queira me dizer que eu sou errado ou não queira, mas eu sou desse jeito. Ajudar as pessoas pra ser ajudado, não é!?! É... então eu perguntava para as pessoas: “O que foi que eu lhe fiz? Você não vota pra mim mais... Você já votou e não vota mais?!? Agora tem um bocado de gente, eu quero que você me diga, pra essas pessoas que não vota mais pra mim, é por que eu já fiz com você, ou com uma filha sua, ou com sua mulher, com uma parente sua... com qualquer pessoa sua. O que foi que eu fiz, que eu não me lembro? Eu queria que você dissesse pra esse povo”. “Você nunca fez nada... e tal.” “Pois é, isso eu perguntei pra umas pessoas, por que pra você eu fiz foi lhe ajudar. Eu já lhe dei um emprego, ainda hoje você trabalha, ainda hoje você ganha dinheiro nesse negócio, melhor do que ter lhe dado uma propriedade de 50 hectares de terra, por que eu lhe dei um emprego que ainda hoje você ganha dinheiro.”
Ai eu passei pro outro... “e esse outro? Por que que o senhor não vota em mim? Diga o que fiz. Só por que ‘num’ quer? Tem que ter um motivo. A gente quando não vota numa pessoa, é que tem que ter um motivo, não é?!? Eu quero que você diga. Aqui tem umas trinta pessoa, eu quero que você me diga. Eu Não voto por que você já me fez isso... Não, não fiz nada demais com você, o que lhe fiz foi lhe ajudar, ajudei sua esposa na minha casa, passou uma semana ou mais, mandei ‘pro médico, dei almoço, dei janta, dei dormida e nunca cobrei nada. Levando ‘pro médico... e tal, e foi isso que eu fiz pra você. Quer dizer que eu fiz o bem pra você e você me paga com o mal? Agora, vocês sabem o que é que vocês querem? É por que vocês tão com inveja. Vocês plantaram, ajudaram a plantar uma planta, e essa planta cresceu, e aí por que cresceu vocês querem ‘derribar’. Só que dá trabalho. Essa planta cresceu, e vocês ficaram por aí querendo ‘derribar’ a planta, agora num pode ‘derribar’ por que ‘tá bem enraizada”.
Um dos motivos de ter segurado um grupo tão forte por tantos anos, foi o fato de nunca ter traído um amigo meu... político. Nem em política e nem fora de política. Por que sempre sou uma pessoa de diálogo, e quando eu quero... eu digo, e quando eu não quero... eu digo também. Mas, trair meu amigo político, meus amigos, eu nunca traí nenhum. Então é isso, as pessoas confiavam em mim, e sabiam da intimidade que o povo tinham comigo, e aí eles os meus amigos viam aquilo, e me admiravam e ficavam cada vez mais meus amigos, me dando mais força, né! Até que fui realmente até onde... eu mesmo até admirei conseguindo isso aqui em Joaquim Pires, por que poucas pessoas tem essa condição de fazer isso que eu fiz.
O fato de eu ser um grande proprietário de terra aqui no município não influenciou para que eu me tornasse líder político, por que nesse tempo as terra estavam todas desocupadas. Não moravam ninguém. Depois foi que a continuidade dos tempo, dos trabalho, foi se abrindo as ruas, mas ai não era rua, era um terreno da zona rural praticamente. Não me ajudava por que não morava ninguém nos terrenos. Na Forquilha moravam pessoas mas eram poucas.
As pessoas dizem assim: “O Antônio Miroca arranjou recurso por que era prefeito”. É besteira. As coisas que tenho, que adquiri como prefeito, foi só essa casa. As propriedade que eu tenho todas eu comprei antes de ser prefeito. A Forquilha eu comprei antes, nem sonhava em ser prefeito. Eu tenho aqui um bairro, aqui dentro da cidade, 3 hectares de terra, hoje foi dividido com a Dona Maria, eu comprei antes de ser prefeito, não era nem prefeito. A casa que a Dona Maria herdou de mim na divisão de bens na separação, eu comprei antes de ser prefeito, nunca tinha sido prefeito. Então, o que acontece é que eu sei ganhar as coisas, sei ganhar dinheiro, e aí as pessoas dizem que eu era pobre, depois fiquei rico.
Não sou... nunca fui rico, eu tive as coisas e, hoje eu não tenho mais essas coisa, mas eu tive. Se obtive alguma coisa na política, nela mesmo eu gastei. O que eu não tenho é por que gastei na política. Mas sempre sei ganhar dinheiro. Sei trabalhar e sei fazer tudo. Mas... também nunca fui pobre, eu sempre fui um homem de fé. Acredito nas coisas e vou buscar, vou atrás de adquirir aquilo, por que quando eu era rapaz de 15 anos eu já trabalhava pra ter as coisas. Nunca fui estragado, nunca fui cachaceiro, nunca fui festeiro demais, gostava de festa mas, naquela época as festas eram mais poucas.
Uma vez estava tendo um festejo no mês de janeiro aqui em Porteirinha... nessa época eu era rapaz, morava nas Contenda e, mês de janeiro tinha um festejo muito animado aqui, e a gente tinha os amigos da gente, tinha os rapazes dessa época, tinha o Bina Julião, tinha o irmão do Maroca Soares, que eu não recordo o nome dele, tinha os dois filho do senhor Manel Martim, que eram irmão do Miguel, tinha esse grupo de rapazes que eram amigo. Nesse tempo eu trabalhava no comércio do finado Tomé e aí eu tinha de costume de nessas reuniões eu me apresentar bem e aí eu vinha o festejo aqui na Porteirinha, naquela época.
Aí comecei naquela conversa com os amigos e tal, “rapaz, tem uma festa hoje lá na casa do Agripino. ‘Ramo’ lá.” Eu disse: “Rapaz, de quem é essa festa?”. Disse: “Rapaz, eu não sei não, acho que é do Bernardo Costa, acho que essa festa é do Bernardo Costa.” O nome do rapaz que me levou pra essa festa, foi o Ciça Soares. Ciça, irmão do Maroca Soares. Aí eu digo: “Vamo”. Aí nós fomos. Pra lá, quando deu umas hora eu ia dançando com uma moça, não me recordo quem era, aí seu Bernardo Costa veio falar comigo, me perguntou quem tinha me convidado pra aquela festa e que eu nem de paletó estava. Naquele tempo a gente só ia festa de paletó. Eu disse que quem tinha me convidado pra festa tinha sido o Ciça Soares.
Aí ele disse: “Pois aqui não é a casa... a casa não é dele, a festa também não é dele, e você... aqui só dança quem é convidado”. Muito bem. “Pois você demore lá, pode terminar de dançar, mas só fica aqui quem é convidado”. Tá ótimo. Aí quando terminou o toque, aí eu saí. Foi isso lá na casa do Agripino, mas que a festa era do Bernardo Costa. De formas que na vida, é muito bom essas coisas, viu... Eu cheguei , eu fui... meus pai eram pobre, como os daqui também eram, né! Toda vida foram pobre esse pessoal, depois ganharam as coisa. E a vida... o homem é a circunstância na vida. Hoje é de um jeito, amanhã é de outro. Eu não me decepciono em dizer que já trabalhei até por diária, só que por dia sou uma coisa, amanhã sou outra, e eu gosto de dizer aquilo que realmente sou, faço.
Olha, eu trabalhei por diária, eu não me recordo é o ano, mas eu tinha uns 15 a 16 anos, lá na fazenda do Angico Branco... roçando mato. Nesse dia lá, o primeiro serviço meu que mandaram fazer foi roçar mato, roçar mato da estrada, roçar mato no caminho, pra o procurador, o dono lá passar. Eu com 16 a 17 ano. Trabalhei roçando mato de facão lá.
Procurar saber ganhar dinheiro e segurar... foi esse o meu lema. Eu me casei em 1950 e já tinha as coisas.
Quando falam que fui eu quem implantei em Joaquim Pires a compra de votos... isso é história. A compra de votos que eu tinha e tenho é a amizade. É por que eu não me escondo de ninguém. Nunca me escondi do eleitor. Nunca enganei um eleitor, se eu posso arranjar o que ele quer... comprar voto eu nunca comprei, eu faço aquilo que eleitor quer. Se ele tá precisando de um milheiro... dois milheiro de telha, eu como prefeito por que não dá, né?!? E se ele tá precisando  de um remédio, um vidro de remédio, eu tinha que dar. Se estava precisando de outra coisa, eu dava também, então era isso. Aí se outros não querem dá, acha que o povo deve votar sem receber isso, por que o certo é votar pela sua consciência, mas, todo mundo sabe como é eleição, né!?! Então, nunca comprei voto. Eu sempre gostei de ajudar as pessoas pobres.
Eu conheci o Joaquim Costa. Joaquim foi o primeiro prefeito daqui. Foi nomeado. Eu tinha poucas relações com ele. A gente se encontrava pouco, já no fim da caminhada dele, nós tivemos mais aproximação, ele foi vice do Santino. Fui eu quem fui atrás dele pra ser vice. Então, nós já no final da coisa, nós tivemos mais aproximação. Foi um bom companheiro, um homem sério, o que eu acho muito bonito, é a pessoa ser honesta com os amigos, ser sincero. O que levou ele a ser nomeado prefeito foi por que ele era do esquema político que existia naquela época.
O deputado Wenceslau Sampaio, ele era o deputado daqui, só aceitava passar cidade... município, se o prefeito fosse do partido dele, e quem era do partido do deputado Wenceslau Sampaio era ele Joaquim, e aí botaram ele Joaquim e por coincidência botaram Joaquim Pires... por que? Por que na família do Joaquim, teve um senador Joaquim Pires. Joaquim Pires da família de Pires, e o nome do homem era Joaquim, era senador Joaquim Pires, aí em homenagem botaram o nome da cidade Joaquim Pires, foi isso. O fato do Joaquim Costa ser da família de Pires, influenciou para que ele fosse prefeito. A família Pires como também o partido, que ele pertencia ao esquema da política do Buriti dos Lopes. Ele tinha pouca relação com Agripino Costa. A relação do Joaquim era com o deputado Wenceslau de Sampaio, Buriti dos Lopes, e ele foi indicado para ser o prefeito interino daqui, indicado pelo deputado Wenceslau.
Eu não sei explicar é por que a família Pires nunca chegou a dominar a política de Joaquim Pires. É uma coisa que eu não posso, não sei nem dizer, por que na grande verdade, era uma família grande e com pessoas de prestígio e tal, e recursos, e nunca teve um pra ser nem eleito a vereador.
Durante esse tempo todo a gente anda muito, viaja muito no município, conhece as pessoas, isso é muito bom e faz muita amizade, muitos moradores, proprietários, com os amigos que ajuda a gente, ninguém faz política só, ninguém, nenhuma pessoa chega a lugar nenhum só. Política é um grupo de amigos trabalhando em um só objetivo. E essas coisas que nos faz esses tempos que passei aqui, a minha mocidade, eu entrei nisso com trinta e poucos anos, a minha mocidade eu gastei nisso, aqui em Joaquim Pires, fazendo política e servindo o povo. Essa, esse foi o meu grande lema, e tenho recordações assim dos tempos que passaram. Os amigos que se foram, os tempos passaram e as coisas vão mudando, tudo muda. E a gente tem sempre lembrança dessas pessoas que foram fiel a gente, e muitos deles já morreram. Somente a recordações de todos.

5.3 – Santino Raimundo dos Santos

Meu nome é Santino Raimundo dos Santos, nasci no dia 14 de janeiro de 1942. No município de Piracuruca, num lugar por nome Espinhos. Sou filho de Raimundo Alves Viana e Maria Rodrigues dos Santos. Tenho como  profissão agricultor. Cheguei aqui em Joaquim Pires no dia 10 de setembro de 1967. Morava na Malhada Grande, município de Buriti dos Lopes. Ficava vizinho ao Coxo. O que me trouxe pra cá, foi por que eu tinha um cunhado e ele quis vim pra cá. Ele morava no Rosário e me convidou pra nós trabalharmos aqui de sócio e eu vim com ele pra cá.
Quando eu cheguei aqui, Comentavam que o Pedro Agápito era o prefeito daquela época e... o seu Agripino Costa era um cidadão que era o chefe político, e que por outro lado tinha o Zé Leôncio de Sales, o finado Zé Leôncio que não... eu não alcancei o tempo do pai dele não, né, mas aí quem era chefe político adversário de Agripino era Zé Leôncio, né. Naquela época que se destacava mais na política o senhor Antônio da Silva Ramos e o Zé Leôncio ficou por que já vinha do pai dele. Agora essa época o candidato mesmo que foi candidato pelo lado dele foi seu Antônio da Silva Ramos.
 
Além de políticos, as pessoas que se destacavam na sociedade era seu Joca que era o coletor, uma pessoa conhecida, tinha seu Costinha, que ele quem fazia aqueles casamentos do pessoal aqui, juiz de paz né, e também nesse tempo tinha o Chico Francisco, só chamavam Chico Jona, né, ele também era um infiltrado no meu da história política né. Tinha também o Vicente Tote que era um alto comerciante, tinha o véi Tote, que era um dos sujeitos velhos aqui. De iniciante tinha um bocado deles, né, que é no meu caso, do Zé Higino, era Higino, era o Chico Tote que é falecido e outros mais.
Os políticos de fora que se ouvia falar aqui era o Pedro Portela, era também um deputado dos Pires, senador era o Dirceu Arcoverde, Petrônio Portela, ele que era o chefão também lá, dava cobertura a Joaquim Pires, principalmente às duas alas políticas que se tornaram ARENA I e ARENA II, né!?!. Existia dois... existiam duas facções políticas, só que governo era um só. Então, só se dividia pra governo municipal, pra governo federal, estadual, seguia tudo num caminho só.
Naquela época as pessoas se comportavam muito bom, no calmo Joaquim Pires. Eu já cheguei aqui ele era muito calmo, as pessoa tudo... respeito muito alto uns com os outros, e que funcionava direitinho, né.
Naquele tempo os eleitores eram muito diferentes dos de hoje. Quando uma pessoa lhe dissesse que votava  num candidato, aquilo ali, você não precisava voltar lá não, já estava cumprido. Diferente de hoje o sujeito modifica muito o sistema. A lealdade das pessoa é diferente, eles se ilude com a história, hoje é uma coisa, amanhã pode ser outra e que você não pode ver o resultado antes, só depois de concluído qualquer que seja uma eleição, ou um sistema político, uma coisa. Naquele tempo era muito fácil, era diferente, hoje mudou tudo.
Falam em voto de cabresto naquela época, mas eu não acho que aquilo seja não. Que existe uma coisa, não tem esse negócio de voto de cabresto não, por que, lembro bem uma coisa, que seu Antônio foi um cidadão que se elegeu aqui muitas vezes e ele não era nem apoiado pelo pessoal que tinha muitos moradores. Ele se elegia, então não tinha voto de cabresto, né! Se tivesse, quem se elegia ali era aquele pessoal que tinha os cidadãos que eram dono de propriedade, que mandava no morado, que fazia isso, então, considero isso diferente. Agora, eu acho hoje muito melhor por que no tempo de coronel, machucava muito as pessoas que não podiam se encostar em ninguém. Aonde ele estava ele tinha que ficar.
O que me levou a me candidatar a vereador pela primeira vez, foi o fato de viver aqui. Eu já votava no Antônio Miroca e a própria filha dele nessa época era moça mas ela trabalhava muito em política e me perguntaram se eu não queria ser candidato a vereador, e eu ouvi aquilo e disse: eu vou ser. Nesse tempo eu era comerciante mas não tinha nenhum problema. Eu fiquei dentro do meu comércio e nada baixou no meu comércio. Não chegava ninguém pra pedir. Era diferente do sistema hoje, que os candidatos não podem ser comerciantes. Naquele tempo era uma política sadia, era diferente. O sujeito ia votar em você, ia lhe ajudar. Por isso eu lhe digo que não tinha eleitor de cabresto, por que hoje pode até existir algum que diga: eu voto em fulano por que ele me dá cachaça, eu voto em fulano por que ele me dá alguma coisa, mas nesse tempo não existia isso, ele não pedia, ele não vinha atrás. Se era comerciante, ele passava você dava se quisesse uma pinga.
No meu primeiro mandato o prefeito era o Zé Leôncio. Nós éramos muito amigos. Pra mim ele foi um cidadão muito bom, que seja pra Deus. Naquele  tempo era mais difícil, os conhecimentos, as coisas... tudo difícil, no tempo da energia, foi na administração dele, a AGESPISA foi na administração dele, então todos que passaram por aqui, tem uma história a dizer. Todo eles que passaram por aqui cumpriram com sua parte conforme o tempo. Depois que o Antônio Miroca entrou novamente começaram os atritos entre os dois. O finado Zé Leôncio só faltava chorar por causa das coisas que não davam dando certo para os amigos da gente. Ele chegava muito pra mim e dizia que ele Antônio não estava se lembrando dele, que para os adversário ele estava dando mais vez do que pra ele. O que é que fazia? Eu dizia pra ele o seguinte: “quando eu cheguei vocês já estavam, não posso entrar no meio. Eu não posso fazer nada, quando eu cheguei no grupo vocês já estavam há anos.
Nesse tempo assumi a presidência da Câmara de Vereadores por que houve a renúncia do cargo de vice-prefeito e presidente da câmara do Sr. José Maria de Carvalho, conhecido como “Zé Maria Marica”. Isso aconteceu por que José Maria de Carvalho ele era candidato, ele foi candidato a vice, de José Leôncio de Sales, só que quando chegou o tempo, influenciaram para ele ser o candidato a prefeito do seu Agripino Costa, ou seja, do adversário. E... pra ele ir pra lá tinha que renunciar, ele tinha que fazer isso. Renunciou, aí mudou pra lá, foi ser candidato como eu também no tempo que fui, eu também tive que renunciar à candidatura de vice-prefeito pra ser candidato a prefeito. Naquele tempo era uma dificuldade pra gente ser candidato, por que ficava na dúvida se podia ou não podia e, pra gente encontrar um jurista era coisa difícil, não era como hoje, né. Então diziam: se você não renunciar, não pode ser candidato. E a gente também não era (que me desculpem), como os políticos de hoje que ficam com medo de perder um “vencimentozim” por um tempo, por que parece que ele não tem coragem de trabalhar. Então, tanto eu como o Zé Maria renunciamos e pronto. Não estávamos nem aí e fomos ser candidatos.
O fato de eu ter assumido a presidência da Câmara depois da renúncia do Zé Maria Marica  não influenciou para que eu fosse o candidato a vice-prefeito de Antônio Miroca nas eleições de 1976. Não influenciou nada não. Primeiro é o seguinte, por que eu sempre gosto de trabalhar com as pessoas com fidelidade, com moral e responsabilidade. Segundo lugar, nós tínhamos um grupo de amigos que eram bom pra ser candidato a vereador. Teve até um probleminha do seu Genézio do Vim, por que ele achou que pra mim ser vereador e ele, ia dá um problema e aí eu fui a ele e disse: “não, não se preocupe não, que eu assumi a presidência da câmara, mas eu não vou ser candidato a vereador não. E vou lhe dizer logo, eu vou ajudar o Antônio Graciano, vai ser candidato, eu ajudo ele por que ele me ajudou. Não quero aqui tomar cadeira de ninguém não”. Por que eles achavam que com isso eu tomaria a cadeira dele. Fiquei fora, aí seu Antônio Miroca mandou até me chamar lá e falou: “Rapaz... por que tu não quer ser candidato?” Aí eu disse: “Olhe, eu não vou ser candidato. Mas, eu vou ajudar do mesmo jeito que eu ajudava sendo candidato”. Faltando mais ou menos um mês pra eleição ele foi e me disse: “Rapaz, eu vou botar teu nome aqui de candidato a vice, num tem outro melhor do que tu”. Eu disse: “Se você quiser botar bote, se não quiser não tem nenhum problema”. E botou. Nunca fiz questão pra ser candidato, por que quando eu vou ajudar uma pessoa, eu não vou atrapalhar não, eu vou é ajudar.
Quando eu fui prefeito a primeira vez, foi o Antônio Miroca que me colocou. Não tinha um nome melhor do que o meu. Eu sempre dizia a ele que eu ia ser candidato, mas a política era com ele. Nós nunca discutimos uma palavra um com o outro. Aí quando ele entrou de novo depois, ele não lembrou de mim... em nada. Eu sempre fui uma pessoa que eu só fico, só sou seu amigo se você quiser, se você não quiser não sou, mas pra isso aí, não precisa brigar. Dando fé que o amigo não tá gostando muito de mim, eu fico fora.

5.4 – Pedro Leôncio de Sales
 
Meu nome é Pedro Leôncio de Sales, nasci no dia 25 de novembro de 1927 em Sobral-Ceará. Sou filho de Francisco Leôncio  de Sales e de dona Antônia Ineizita de Sales.. Nós morávamos no Ceará, e quando viemos de lá, o papai vinha com pouco recurso. O papai ficou trabalhando de morador em São Domingo, o patrão dele era o vaqueiro e o procurador  do Almirante Gervásio, grande homem de Buriti dos Lopes. Então o Almirante Gervásio perguntou o Zé Leite, que era o vaqueiro e procurador dele, se por ali não tinha algum cearense que soubesse trabalhar em carnaubal. Aí ele respondeu que tinha um cearense recém chegado do Ceará e que era um homem trabalhador e direito. A partir daí o Almirante Gervásio ficou dando dinheiro para o papai para a compra de pó. Nisso ele deu para o papai um carro velho, ano 28 que carrega 1.500 Kg. Daí em diante o papai, a mamãe e um rapaz que ajudava, começaram a derreter pó fazendo cera. Com o passar dos dias diante da confiança que eles tinham um no outro o papai chegou para o Almirante e disse: “Almirante, me compre uma propriedade na Mimosa”. Aí o Almirante respondeu: “Rapaz, você quer me largar?”. O papai disse: “Não Almirante, eu tenho vontade de morar no que é meu”. Aí o Almirante disse: “Quanto é lá?”.  O papai comprou as terras e ele pagou.
A propriedade era do finado Luís Carvalho. Ele era poeta de uma inteligência grande. O papai comprou a propriedade e trouxe a gente carregando em jumento. Eu tinha uma irmã doente, veio numa rede, os outros vieram a pé, a mamãe veio a cavalo. As minhas irmãs mais velhas, a Francisca e a Arminda, vieram dentro de um jacá e eu no meio da estrada, no meio da carga dos jacá. Saímos do São Domingo umas horas da noite e chegamos na Mimosa de madrugada. Aí quando chegamos na Mimosa o papai começou a se movimentar. Quem deu a mão para o papai abaixo de Deus foi o Almirante Gervásio. O Almirante comprou as terras e o papai pagou em pó e em cera.  Depois o papai foi para o Ceará e trouxe  uns homens pra tirar o carnaubal e aí a coisa melhorou. Depois o papai falou novamente com o Almirante Gervásio pedindo um dinheiro para comprar 200 gados, bode, ovelha... aí o Almirante disse assim: “Leôncio, tu tá enriquecendo. Daqui a pouco tu tá meu patrão”. Aí o papai falou: “Não Almirante, é que quero que você me ajude, que eu quero comprar porque eu tenho vontade de comprar essa outra propriedade que já vem com gado, tem ovelha, tem tudo”. Aí o Almirante deu a ordem para o Rolando Jacó de Parnaíba, para o Rolando fornecer o dinheiro. Aí o papai pagou com cera. Ele trouxe mais homens do Ceará, aí todos nós fomos trabalhar. Nesse tempo o preço da cera subiu... foi lá pra cima, e aí o papai pagou logo o dinheiro.
Isso tudo foi mais ou menos foi de 30 a 36 por que em 40 o papai já estava folgadão. Já chamavam ele de Coronel. Ele resolveu ir para o Baixão...chamavam o Baixão de Mitamba. Nesse tempo lá tinha uns sítios do finado Luís Carvalho. Tinha um engenho de pau, tinha tudo, aí o papai queria levantar. Era perto. O papai mudou-se pra lá. Lá começou a trabalhar e melhorou mais ainda de condição. Nesse tempo ele fez um empréstimo com o Presidente da República Getúlio Vargas para poder fazer um açude. Nessa época o papai já era um homem “apulumado”, já tinha o nome de coronel, já tinha muito gado... muito boi. O próprio povo daqui o chamavam de coronel, como também os de fora. Os coronéis não tinham era curso e nem diploma, mas davam a patente pra eles.
O papai também plantou muita cana. Ele ia buscar uma cana chamada  piojota no Ceará. Tinha essa cana roxa e a cana caiana. Ele tinha engenho de pau, fazia rapadura e depois começou também a fabricar cachaça. O pessoal trabalhava no canavial o mês de julho, agosto, setembro e outubro. Ele tinha uns setenta homens trabalhando pra ele. Eram cearenses e filhos de cearenses. Tinham uns que eram pernambucano e paraibano.
Ele era um homem muito energético. Era pobre mais era energético. Uma vez quando a comadre Duca era moça, namorava com o compadre Isaque, que é o esposo dela... foi esposo... era namorado... ela dava confiança ao compadre Isaque e dava confiança ao João vaqueiro, que era o vaqueiro do papai. Estavam numa festa e lá ela deu confiança aos dois, aí o Isaque veio tirar ela pra dançar e ela na perna do João vaqueiro... de lado. O João vaqueiro disse não... dava não que ela estava ocupada com ele alí. Aí ele puxou uma faca e deu uma facada nele debaixo do peito. Aí foi aquela confusão.
O compadre Isaque trabalhava na cozinha lá de casa, pois o papai não tinha mulher trabalhando na cozinha, por que a luta era grande. Tinha que pisar arroz, café tinha que ser pisado, o feijão penerado na areia... Aí o papai botou o João vaqueiro e compadre Isaque dentro de um quarto, quando deu dez dias a polícia chegou lá em casa. O delegado era José Ribeiro Machado, da família de Pedro Machado de Parnaíba. Quando ele chegou disse: “coronel Leôncio, nós viemos aqui prender o Isaque”. Aí o papai disse: “Prende não... quem faz comida aqui é o Isaque. O meu vaqueiro tá lá dentro deitado e tá bem melhor, tá quase bom... lá está ele. Eu vou deixar o cozinheiro da minha cada ir preso? Delegado, esses soldados que você trouxe são poucos... não vai dá não. Se meu vaqueiro morrer, eu pego o Isaque e vou deixar lá em Buriti dos Lopres a cavalo, mas deixar o meu cozinheiro que torra meu café ir preso... vai não”. E não foi não.
Quando iam saindo o delegado falou para um soldado: “Rapaz tu é doido... não tá vendo que se tentarmos levar ele vai morrer gente?!? Deixa ele cuidar do vaqueiro dele”. Aí o João vaqueiro ficou bom, a comadre Duca casou o compadre Isaque e o João vaqueiro casou com outra “Matins” parente da comadre Duca, que morava no Angelim.
O papai tinha na casa dele muitas armas. Tinha papa amarelo, rifle surdo, um 38 tanque, garrucha, espingarda lazarina boca de sino. O papai não ia mijar se não fosse com o revólver na cintura. O pessoal queria perseguir ele  por causa da riqueza que ele possuía. Um dos que perseguia ele era o Pedro Quaresma.
Ele tinham uma fama de valentão por que ele não “abria” pra ninguém. A polícia quando foi buscar o Isaque lá em casa perguntou se ele tinha arma, aí ele respondeu: “Tenho. Todas estão aqui”. Antes do papai morrer, ele teve derrame cerebral e ficou aleijado de um lado, nesse tempo ele ainda aprendeu atirar com a mão esquerda.
Inventaram uma vez que ele tinha enterrado um homem de cócoras, mas é mentira. O que aconteceu foi que apareceu um negro pra trabalhar com ele chamado Benedito. Ele ficou trabalhando até de guarda-costa do papai por que ele era grandão. Pra onde o papai ia, o Benedito ia com ele, ele era o homem de confiança do papai. Um dia eu fui comprar sabão em Luzilândia no finado Bernardo Leão, aí me disseram assim: “Rapaz, esse homem tá aqui?”. Eu respondi: “Tá lá em casa com o papai, ele é de Barroquinha”. E o homem me disse: “Rapaz, isso rouba sonhando... ele amansa, amansa, amansa e quando pensar que não ele vai e rouba”. Quando eu cheguei em casa falei para o papai e o papai falou pra ele: “Tá aqui seu Benedito seu pagamento. De meio-dia pra tarde não precisa mais trabalhar não. Pode ir embora, desocupe minha fazenda, você é um ladrão fino, e com ladrão eu não luto”.
Ele se calou e a negrada ficou todo mundo calado por que temia o papai, mas depois o Benedito ficou perseguindo. Ele disse que ia deixar o papai mais pobre do que ele. Até que chegou ao ponto de mandar um recado para o papai dizendo que tinha levado duas facas pra matar ou o papai ou o Zé Leôncio, e a outra faca era pra matar o Pedro Quaresma. Ele tinha levado também um saco pra botar os pedaços deles. Aí o Zé Leôncio chagou lá em casa e disse assim: “Papai, o Benedito tá lá na casa do vaqueiro e mandou dizer que vai me pegar lá no Canto Feio”. O papai respondeu: “Pois vá”.
O papai mandou com o Zé Leôncio dois capangas dele... o Manel Joé e o Manel Francisco que era da Paraíba. A cada um o papai deu um rifle. Foram a cavalo e quando o Zé Leôncio chegou lá deu voz de prisão ao Benedito. O Benedito respondeu: “Homem não se prende, se mata”. Aí Benedito jogou uma faca no Zé Leôncio e acertou na cela do animal e nessa hora o Zé Leôncio pulou e ficou enganchado. O cavalo começou a rodar com Zé Leôncio enganchado. Lá em casa o papai falou para a mamãe: “Ineizita, meu filho não tá passando bem não, eu tô com um palpite e eu vou já lá”.
O papai pegou um cavalo que ele tinha chamado argentino, e quando chegou lá estava o Zé Leôncio dizendo para os capangas atirar e eles não atiravam com medo. O papai era um bom atirador e de longe deu grito pro negro. O papai deu um tiro e pegou quadro dedos acima do umbigo do Benedito. O “pau fumaçou” ele caiu, aí a faca caiu da mão dele, ele meteu a mão e puxou outra faca mas lá ele morreu... ficou lá no meio do tempo. O papai mandou chamar o delegado pra tirar o corpo delito, quando o delegado chegou o Benedito já estava todo duro, aí mandaram enterrar ele e enterraram lá no Mandu.
Quem foi processado pela morte do Benedito foi o Zé Leôncio por que nesse tempo o Bossuet era seminarista. Naquela época se o seminarista fosse filho de criminoso não podia ser ordenado padre. Aí o Zé Leôncio assumiu, mas nunca foi preso. Só passou um dia na cadeia, que foi no dia que ele teve que ir lá pra responder as perguntas. Lá mandaram chamar a mulher do juiz pra dormir com ele... divulgaram que o papai era Coronel e dispensaram ele pra ele vir embora.
O papai começou entrar na política por incentivo de algumas pessoas. Falavam pra ele entrar por que ele tinha condições financeiras, estava conhecido e tinha o Antônio Miroca aqui na cidade. Ele veio a entrar na política depois da emancipação da cidade. O prefeito era o Joaquim Pires Costa, nomeado pelo Wenceslau. Depois do Joaquim Costa foi que o papai entrou junto com o Antônio Miroca. O Antônio Miroca, o Joaquim Lera dizendo para o papai entrar... aí o papai entrou e abriu as mãos. Gastou muito dinheiro. Ele tirou muita vantagem e dizem que ele ganhou bem as eleições, mas o negócio era que as urnas passaram mais de cinco dias aqui em Joaquim Pires antes de ir para Buriti dos Lopes... e aqui abriram as urnas e tiraram os votos do papai e deixaram os do coronel Agripino. Nesse tempo o papai era da UDN e o seu Agripino do PSB.
O papai era bom demais para os eleitores ele servia muito as pessoas. As pessoas iam procurar ele por uma necessidade ele estava pronto pra atender, como por exemplo, a pessoas chegava lá i dizia: “Coronel Leôncio eu matei fulano de tal...” ou “Eu quero que você mande deixar minha mulher... eu quero isso... eu preciso daquilo...”. Ele tinha muita gente do lado dele, mas quando chegou aqui na cidade foi traído quando tiravam os votos dele de dentro das urnas. Dizem que compravam a polícia e a polícia abria as urnas. Eu sei que tiraram os votos do papai e colocaram os do seu Agripino. Foi uma negação os votos do papai... foi uma negação. Mas foi uma negação por que roubaram os votos dele.
Com isso começou a rivalidade entre os Leôncio e os Costas. Os Costas ficaram com aquela cisma com todos nós, mas nunca chegou a ter nenhuma confusão mais séria por que eles temiam. Uma vez chegou quase a acontecer uma confusão por que o papai quando ele vinha aqui para Joaquim Pires ele se hospedava na casa do Vicente Tote. Quando o carro de som do grupo do Agripino Costa passava na porta aumentava o soim e soltavam foguete. Aí o papai mandou chamar o delegado e disse pra ele: “chame e mande suspender esse carro de som aqui na minha porta, ou então passar aí calado, e se soltarem foguete eu corto um com uma  bala. Eu não quero nem saber... eu posso é morrer mas corto um na bala”. O delegado chamou o carro de som e mandou passarem lá calados se não... não ia dar certo.
Eu lembro  pouca coisa do dia da emancipação da cidade. Só lembro que viemos pra cá pela Malhada de Baixo. Estava num inverno monstro. Lembro que veio o Wenceslau com um pessoal do Buriti dos Lopes, veio aquele governador Chagas Rodrigues. Veio todo esse pessoal para passar a cidade.
Quem levantou o Antônio Miroca na política foi o papai, por causa do Wenceslau. O Wenceslau perguntou: “Lá não tem assim um homem trabalhador não?... Um homem de vergonha?” O papai respondeu: “lá tem um homem, a cara dele é de homem... eu me engraço com ele. A cara dele é de homem, agora... eu não sei se ele aceita, se ele quer.” O Wenceslau queria era esse homem pra fornecer armazém pra ele, depois quando ele estive com mais tempo... ele já conheceria direito esse homem e o jogava dentro da política. E esse homem foi o Antônio Miroca. Depois o Wenceslau disse para o papai: “Leôncio, vamos candidatar o Antônio Miroca. O homem é direito... o homem é bom.”
Depois houve o rompimento entre o Antônio Miroca e nós Leôncios. O papai já tinha morrido. O papai morreu em 64... do coração. Tudo indica que o rompimento aconteceu por que o Antônio Miroca arranjou um deputado e esse deputado soltou um dinheiro pra dividir entre ele Antônio e o Zé Leôncio... segundo o que ouvi dizerem. Aí o Antônio Miroca ficou com o dinheiro escondido e não deu nada para o Zé Leôncio. Depois que houve o rompimento se distanciaram e o Zé Leôncio não entrou mais. Aí nós ficamos de fora.
Eu fui o primeiro vice-prefeito eleito do Antônio Miroca. Ele chegou para o pessoal e perguntou: “Rapaz, quem é que eu boto como meu vice?” Aí o Benedito Nicolau respondeu: “O Pedro Leôncio. A família dele é grande... com a família grande você vai.” O Antônio Miroca já tinha perdido eleição duas vezes. Eu nem queria, a Mazé foi quem disse pra eu aceitar pelo menos pra dizer que eu era vice-prefeito do Antônio Miroca. Só entrei na prefeitura no dia da posse e no dia pra entregar. Ele não precisava de mim. Só por uma assinatura...
Naquele tempo quem mandava aqui era o Antônio Miroca. Se ele desse um nó numa corda, pra desatar era  a maior dificuldade.
Naquele tempo já existia a compra de voto, mas o papai quando era vivo não dava dinheiro para os moradores dele não. Ele dava o que eles precisassem. Quando chegavam lá por casa o papai dizia: “Fulano, tu vai me dar um voto, o que tu precisa me diz”. Aí a pessoa ia e falava. Mas, chegar e dizer “aqui fulano, dez cruzeiro, dez “miréis” pra tu votar em mim”, não tinha isso não. Eles votavam em quem o papai dizia, por que a luz que iluminava o andor  era ele papai. Toda necessidade de polícia, de política, de perseguição, eles corriam lá em casa, e ninguém ia atrás.

5.5 – Francisca Nogueira dos Santos

Meu nome é Francisca Nogueira da Silva, nasci 04 de outubro de 1965 na localidade Brejinho, em Joaquim Pires. Sou filha de Antônio Nogueira dos Santos e Rita Moura dos Santos. Morei com meus nas terras do Sr. Agripino Costa de 1965 até mais ou menos 1982. Tenho lembrança de minha idade de oito anos quando eu morava lá. Chegamos lá atrvaés de minha vó que veio do Ceará e foi ser moaradora lá. Minha família faziam ro;cas nas terra do Sr. Agripino.
Nessa época tinha muitos moradores, mais ou menos uns sessenta nas terra que ficam ali pelo Brejinho, Orelha D’onça, Canto de Cima e Canto de Baixo.
Na época de eleição seu Agripino trabalhava normal, como qualquer outro candidato. Fazia visitas pelas casas deixando cartaz e pedindo voto. Nunca vi ele agradar ninguém em troca de voto, nunca ouvi falar dele comprando voto por lá. Ele era uma pessoa que tratava bem os moradores. Ele ajudava quando podia, por exemplo, quando uma mulher tinha bebê ele ajudava com leite até muito tempo, ele mandava o vaqueiro fornecer o leite. Ele dava fruta, o que tivesse no sítio.
Quando alguém adoecia o vaqueiro vinha a cavalo atrás de um carro, aí seu Agripino mandava um carro ir buscar para transportar o doente. Tudo lá a gente contava com o Agripino Costa.
Os moradores se sentiam à vontade na hora de votar e não se sentia obrigados. Ouvi algumas pessoas falando que se não votasse, podia o seu Agripino botar pra fora das terras. Eles tinham medo de sair, mais nunca ouvi falar que seu Agripino ameaçasse alguém pra poder votar nele.